Bloco revisto e explicado (Jornal Registo - 29/06/2009)
O grande fenómeno da política portuguesa dos últimos 10 anos é, sem dúvida, o Bloco de Esquerda. De um movimento residual, que foi essencialmente, um restyling do velho PSR, transformou-se num partido do “patamar 10%”, com uma forte implantação no eleitorado jovem e urbano.
Compreendo facilmente porquê e até apresento a seguinte confissão: até simpatizo com o Bloco. É verdade! Simpatizo com a sua irreverência e criatividade, com o facto de se apresentarem com ideias frescas que contrastam com algum “cinzentismo” da classe política portuguesa, com o seu profissionalismo e capacidade de trabalho (ver o trabalho efectuado no Parlamento), com a capacidade de comunicação (e alguma sedução!) de figuras como Ana Drago ou a agora esquecida Joana Amaral Dias.
Em síntese, simpatizo com quase tudo o que é acessório (a forma) para, paradoxalmente, me opor a tudo o que é fundamental (o conteúdo)! Efectivamente, um modelo de país ou sociedade, construído à base das ideias e projectos do Bloco equivale a um filme do género “dramático”, que poderia bem acabar em “terror”.
Primeiro a ideologia. A cartilha, para os mais esquecidos, continua a ser a marxista, entrelaçada nas correntes estalinistas e trotskistas. Como tal, a visão totalitária de sociedade (modelo único), está sempre presente. Depois, os casos concretos. A crise internacional actual (que não tem a ver com excesso de liberalismo ou mercado, mas sim falta de ética e regulação) deu coragem aos senhores do Bloco para, nos seus outdoors, mostrarem a ponta do iceberg. Desde já, sabemos que passaríamos a ter uma economia nacionalizada, centralizada no sector empresarial do Estado (EDP e GALP seriam já as primeiras vítimas). Para quem não se lembra no que isto resultou em 1975, é favor questionar a sabedoria dos mais velhos. Depois (também através de outdoors) ficámos a saber que “quem tem lucro não poderia despedir”. Gesto humano e solidário à primeira vista, desastroso num olhar mais apurado. Efectivamente, poderíamos, no limite, ter um conjunto de empresas, estruturas gigantescas, ineficazes e pouco competitivas, que desde que dessem 1 euro de lucro no final de cada ano, seriam intocáveis. Aqui não haveria possibilidade de criar, de inovar, de reestruturar, de premiar o mérito, de facilitar a empregabilidade dos mais jovens.
Por último (a cereja em cima do bolo), a política externa. Não se limitando a contestar a globalização (demagogia que já seria suficiente, tendo em conta que é consensual que a globalização tirou da pobreza extrema centenas de milhões de pessoas nos últimos 20 anos), o Dr. Louçã assumiu recentemente que também queria Portugal fora da NATO. Como tal, num cenário de incertezas e ameaças globais, teríamos um País fora da sua rede natural de alianças, algo que obrigaria (como faz a Suécia ou a Suiça) a fortes investimentos nas forças armadas – isto se a independência e segurança de Portugal estivesse nas 10 primeiras preocupações do Bloco, coisa que duvido.
Portanto, caro(a) eleitor(a), da próxima vez que a simpatia que tem pelo Bloco o levar a equacionar uma cruz no quadrado respectivo, lembre-se, por favor, da sociedade “forçadamente equalitária”, estagnada e acrítica que teríamos se estes simpáticos senhores e senhoras tivessem real poder de decisão. Fica o desafio à reflexão…