Wednesday, May 23, 2007

Lisboa...

A pulverização de candidados às eleições intercalares de Lisboa merece algumas reflexões....e também preocupações! Em primeiro lugar, numa óptica positiva, mostra a maturidade democrática da nossa sociedade que permite a pessoas e projectos afirmarem-se de forma autónoma do arco partidário existente. É em minha opinião salutar que pessoas com a experiência e as qualidades técnicas de Helena Roseta ou Carmona Rodrigues venham trazer o seu contributo para o debate de estratégias para a Cidade - não vejo nisto qualquer drama. Preocupa-me, contudo, o espaço de influência actual dos partidos políticos e a imagem cada vez mais degradada que passa em vastos segmentos da opinião pública e publicada. E esta questão deLisboa não ajuda nada. Aparentemente, os tacticismos partidários, da esquerda à direita, são mais fortes que os imperativos de construção de projectos consensuais e estáveis - o processo de erosão da CML dos últimos meses e as muitas candidaturas provam-no. Como não compro a Tese dos "Partidos Malvados, Origem de Todos os Males" e os considero, ontem como hoje, os garantes da democracia representativa, prevejo tempos difíceis....a não ser que se mudem determinados comportamentos e práticas - na forma de fazer e comunicar na política. Mas receio que a noite eleitoral de Lisboa não traga boas notícias a crentes como eu.

Monday, May 14, 2007

Quem tem medo da nova Europa?

A vitória de Sarkozy transtornou alguns espíritos mais inquietos em diversos meios intelectuais e políticos. A agenda do sujeito é, de facto, uma ameaça para os guardiões do modelo social europeu que ainda não perceberam que, para o bem e para o mal, o seu mundo já não existe. A Europa que está nos planos do novo presidente francês, de Merkel, de Gordon Brown e outros é uma Europa da flexibilidade e da competitividade, sem os traumas ideológicos das gerações passadas. Deverá conciliar a qualidade de vida já conquistada nos últimos 50 anos com as condições básicas que permitam às sociedades do velho continente níveis de performance equivalentes aos seus mais diversos concorrentes. E, em concreto, que condições serão essas: seguramente Estado forte e com autoridade, mas reduzido ao mínimo em termos de funções e dimensão, fiscalidade suave, modelos de educação baseados na excelência e na simbiose com as empresas e sociedade civil, modelos sociais de "garantia mínima" e flexibilidade laboral - apenas para citar algumas. E, em termos políticos e geo-estratégicos, o fim da perigiosa clivagem Europa - Estados Unidos, iniciada em 2003 por alguns senhores que, por egoísmos e tacticismos mesquinhos ou desconhecimento da História, quiseram substituir o atlantismo tradicional das sociedades da Europa Ocidental por visões sem sustentabilidade e sem futuro (ex. as parcerias com o senhor Putin).
E, não menos importante, a noção que a Europa multi-cultural é uma realidade estruturante - como tal, há que desenvolver toda uma cultura de acolhimento e integração. Sim, porque tal como Roma há 2 mil anos, a Europa já não é apenas um continente, ...é uma visão do Mundo, é um estado de Espírito!