Monday, February 15, 2010

Da Individualidade e Diversidade ao Poder para Mudar


O Fórum Alentejo 2015, ao qual tenho o orgulho de presidir, organizou no passado Sábado, dia 6 de Fevereiro, em Alcáçovas, a Conferência-Debate “A nova Agricultura Alentejana: desafios e oportunidades”. Numa sala cheia com quase duas centenas de participantes, excelentes oradores tiveram a oportunidade de oferecer aos presentes análises (na minha óptica) lúcidas, objectivas e esclarecedoras sobre os desafios do mundo rural e da actividade agrícola no século XXI, numa perspectiva regional, nacional e global. Um dos aspectos que, em particular, captou a minha atenção, foi a referência do Prof. António Serrano, Ministro da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, ao número de cooperativas (cerca de 900) e de associações (mais de 600) representativas do sector com as quais tem de lidar e, naturalmente, auscultar.
Não pondo, obviamente, em causa a liberdade de associação (quer com fins económicos, quer com fins de promoção e defesa de interesses comuns e legítimos), tal deverá levar-nos a equacionar qual o ponto onde a nossa identidade e individualidade deixa de ser uma força e passa a ser uma fraqueza.
Centrando esta questão em termos económico-empresariais e saindo do âmbito restrito da agricultura, diria que, em Portugal, boa parte dos nossos atrasos e falhanços não radicam na nossa capacidade de trabalho e de inovação, mas sim na nossa pouca capacidade e orientação para trabalhar em parceria, em equipa, numa comunhão de objectivos e metas que mereçam o compromisso de todos. Exemplos de sucesso e boas práticas? Os vinhos alentejanos já o demonstraram desde há uns anos a esta parte; as indústrias do vidro, do cristal e dos moldes, na região centro (não obstante as dificuldades posteriores), deixaram também uma mensagem no mesmo sentido. Quando deixamos de lado os nossos egos e os nossos egoísmos muito particulares, geralmente centrados apenas na questão do estatuto, podemos associar-nos e estabelecer caminhos conjuntos, para fazer mais e melhor - seja para obter eficiência de gestão de recursos, sinergias, maior capacidade negocial, viabilização económica, construção de marcas globais e, não raras vezes, uma capacidade de análise e visão estratégica mais ampla e mais acertada.
Exemplos mundiais que em Portugal são raríssimos: quando, em contexto de crise, empresas e universidades trabalham em conjunto para incrementar a inovação aplicada, estão a demonstrar capacidade de alinhamento e complementaridade de esforços e de criação de valor; noutro âmbito, quando administrações de empresas e sindicatos se comprometem a elaborar planos de viabilização para impedir o encerramento de unidades industriais, estão a construir soluções, numa óptica de ganhos mútuos.
Em suma, voltando ao cerne da questão, reforço que o problema não estará na existência e na multiplicidade de entidades, mas sim na sua capacidade de gerar consensos. Aqui, a pedra-de-toque será a separação do que é crítico e essencial do que é acessório e não estratégico. Por isso, longe de defender “unanimismos”, diria que a diversidade de instituições e pontos de vista é enriquecedora, dada a sua complementaridade. Mas será a sua união genuína por causas comuns que lhe conferirá força e poder para marcar a diferença e, efectivamente, gerar mudanças. Tudo isto é verdade nas nossas vidas, na economia e nas empresas e, como é óbvio…na Política!

Carlos Sezões

Monday, February 01, 2010

Geração Perdida?


Geração perdida...A expressão original data, como alguns saberão, da década de 20 do século passado. Ao que parece, a sua autoria coube à escritora Gertrude Stein e, neste grupo fatídico, incluir-se-iam intelectuais e escritores como o grande Ernest Hemingway, Ezra Pound, Scott Fitzgerald e T. S. Eliot, entre outros. Pressupunha, em primeiro lugar, um estado de espírito: uma atitude pessimista, melancólica, de falta de fé e esperança no mundo. A elevada (e desnecessária) mortandade da guerra 1914-18, a falta de referências morais, a impotência dos governos para garantir a estabilidade política, o desenvolvimento económico e o emprego (que originou, nesta altura, à emergência dos extremismos fascistas e comunistas) levou a que se impusesse neste grupo uma atitude de depressão e descrença, afogada nos excessos da bebida. O epíteto foi depois alargado a toda uma geração que, nos principais países ocidentais, sofreu as agruras do período pós-I Guerra Mundial e da grande crise económica mundial de 1929-1934.
Porquê esta revisita histórica? Porque hoje, infelizmente, a expressão volta a usar-se no tempo presente. No Reino Unido, utilizou-se há uns meses para caracterizar toda uma geração de “under 25’s” que vive numa precariedade do desemprego e numa descrença total. Por cá, neste rectângulo há beira-mar plantado, temo que daqui a não muitos anos, olhemos para esta época como um período negro, o início da nossa geração perdida. Porquê? Olhemos para factos e para números.
Estamos a criar um Estado (que, fundo, é de todos nós) insustentável. Segundo o muito falado estudo do BPI (que provocou uma irritação desproporcionada do nosso primeiro-ministro), de 2005 até ao final de 2013 (8 anos!) a dívida pública em % do PIB deverá duplicar de cerca de 65% para cerca de 125% do PIB. Esta é a conclusão de um estudo credível, realizado por uma entidade que, por acaso, é consultora do Estado em muitos projectos de investimento. Como é que esta geração vai pagar? Ninguém sabe e, talvez por isso, ninguém diz.
Em termos económicos, segundo a OCDE, Portugal será o segundo país membro com o menor crescimento médio anual (1,4%) entre 2011 e 2017 e, como tal, os portugueses continuarão a afastar-se do nível de vida dos países da Zona Euro. Tendo em conta a relação directa economia-emprego, a confirmarem-se as previsões, Portugal não conseguirá verdadeiramente criar emprego nos próximos oito anos. Que empregabilidade para uma boa parte desta geração?
Em termos educacionais, não obstante os progressos na literacia tecnológica (aposta de louvar, deste governo) estamos a criar um clima de facilitismo que nada contribui para os valores de mérito e sacrifício e para as competências que serão mais tarde valorizadas no mercado de trabalho. A taxa de abandono do sistema de ensino, antes da conclusão do secundário, continua em valores próximos dos 40%.
Em termos de capital humano, estamos a empobrecer. Estima-se que todos os anos cerca de 20 a 25 mil portugueses (na sua grande parte jovens e qualificados) saem de Portugal em busca de novas oportunidade de trabalho, fruto do desemprego, do imobilismo do mercado de trabalho e dos baixos salários. Dir-me-ão que a mobilidade global é uma tendência incontornável e positiva e que muitos voltarão com maior capital de experiências. Sem dúvida! Mas este movimento é mais grave…é mesmo uma autêntica” fuga de cérebros”, de carácter mais permanente, em função do país que temos!

Como sou um optimista incorrigível, acredito que este cenário não é um fatalismo. Agora, temos mesmo de mudar! De mudar de vida, de atitudes, de comportamentos, de participação social e de exigência cívica, de estratégias para o país. Os próximos 2 anos serão, a meu ver, decisivos.

Carlos Sezões