Saturday, July 24, 2010

Ensaio sobre o imobilismo


Mudar custa…é uma verdade universal! Mas começo a ficar convencido que, seja por motivos genéticos, culturais, psico-sociológicos ou apenas por acaso, mudar algo em Portugal custo mais do que devia. Temos, efectivamente, uma tendência para mantermos uma sólida e convicta “zona de conforto”, baseada em mantermos o que sempre tivemos, fazermos como sempre fizemos e olhar com desconfiança quem se atreve a sugerir o contrário. Tempos uma aversão pela incerteza e pelo risco, uma enorme preocupação com a segurança, níveis de ansiedade um pouco elevados, um certo culto da hierarquia e pouca orientação para os resultados e o mérito.
Em todos os campos da nossa realidade encontramos bons exemplos desta tendência para o imobilismo e para atrasar ou impedir a mudança. Nas empresas, sempre que se fala de reorganização, inovação tecnológica ou novos processos de trabalho, levantam-se de imediato olhares de dúvida e de oposição. Na política, já perdi a conta aos anúncios de reformas estruturais que, geralmente com muito boa vontade, ambição e alguma ingenuidade, são iniciadas mas raramente concluídas. O motivo é sempre o mesmo: resistência à mudança, seja pelas chamadas “corporações de interesses” ou pela pressão política das oposições. Podemos ir ainda aos exemplos “micro”, desde um licenciamento industrial ao alvará de construção, desde as comissões de inquérito, aos “livros brancos” de qualquer coisa, que mostram que a burocracia, mais que um “filtro de qualidade e conformidade”, é na maioria das vezes um “filtro à mudança”.
Lembrei-me de tudo isto após assistir às primeiras reacções às ideias e projectos que economistas, empresários e políticos (neste caso, destaque para a nova liderança do PSD) têm lançado nas últimas semanas. Fala-se em Estado mais pequeno e eficaz, liberdade de escolha dos cidadãos na saúde e na educação, mercado de trabalho mais flexível e aberto a quem está fora dele e não consegue oportunidades, organismos reguladores com poderes reforçados e a resposta é a resistência crispada, sem qualquer argumento minimamente válido. A resposta é o ataque personalizado e desproporcionado, o agitar de fantasmas como o “liberalismo selvagem” e a montagem de uma “trincheira ideológica” do sacrossanto Estado Social. Qualquer cidadão minimamente inteligente compreende que este Estado actual é insustentável: não se podem ter as mordomias de um estado nórdico com a economia e a administração pública de um país latino, combinadas com a demografia do século XXI. Como dizia o outro, “é fazer as contas!”. Como tal, as propostas em cima da mesa são uma possível solução para manter uma sociedade com níveis aceitáveis de qualidade de vida, simultaneamente, competitiva e mais justa em termos de igualdade de oportunidades. Se existirem outros caminhos, que sejam apresentados que serão bem-vindos. Mas não se defenda um imobilismo desesperado e suicida apenas porque sim, porque apetece ou porque ainda não se acordou do sono em que o “Estado providencial e pronto-socorro” dos últimos 15 anos nos induziu.

Carlos Sezões

Friday, July 09, 2010

Criatividade e Inovação na Política: precisa-se!


Independentemente do enquadramento ideológico e partidário de cada um de nós, penso que é consensual que a Política deste século XXI é bastante diferente da que era feita há 20 ou 30 anos atrás. Por várias razões. Por um lado, temos hoje na sociedade actual públicos mais informados e exigentes, por muito que possam à primeira vista parecer desatentos ou indiferentes. Os níveis de educação e literacia e maiores graus de informação e conhecimento sobre as várias áreas vêm trazer a necessidade de maior objectividade e aprofundamento quando se comunica uma tomada de decisão ou se diagnostica um determinado problema. Mas, quando queremos passar mensagens políticas, temos ainda outro problema. Deparamo-nos hoje, como nunca antes na história, com a concorrência de inúmeros tipos de comunicação diferentes, nos espaços públicos e privado em que se desenrola a nossa vida: mensagens com o objectivo do consumo, do entretenimento, da informação generalista ou mas focalizada, desde o desporto, à música, das festividades populares ou contemporâneas à vida das celebridades.
Mas a maior revolução está a decorrer, indiscutivelmente, com a emergência de novos canais de comunicação, assentes em tecnologias de informação. A grande mudança começou nos websites, continuou com o advento dos blogs e hoje acontece nas redes sociais que todos ou quase todos frequentamos: o Facebook, o Twitter, o You Tube, o My Space, o Hi5 e outras. Para quem não tenha a noção da dimensão deste fenómeno, a título de exemplo, o Facebook tinha cerca de 2 milhões de utilizadores activos em Portugal e o seu crescimento progride a um ritmo imparável. Alguns vídeos dos “Gato Fedorento - Esmiúça os Sufrágios” chegaram a ter cerca de 150.000 visualizações e foram, para os segmentos etários mais jovens, o grande ponto de contacto com a campanha para as eleições legislativas de 2009, então em curso.
Mas, ao contrário do que muitos pensarão “estar” na Internet e nestes novos canais só por si não basta. Eles apenas amplificam, tanto os bons projectos políticos e bons candidatos como os maus. O “segredo” continua a ser, pois, a essência do que queremos fazer na Política (ideias, propostas, programas).
Portanto, em síntese, hoje o patamar de exigência é maior na comunicação política. Um líder político deve ter a capacidade de agir em tempo real sobre os acontecimentos, comunicar de forma eficaz sobre aquilo que realmente importa às pessoas e, simultaneamente, ter uma visão de futuro em que os cidadãos se possam rever. Neste contexto, tendo em conta os factores que descrevi atrás, a criatividade e inovação são essenciais para diferenciar as nossas mensagens políticas. Tanto na forma, como no conteúdo. Regras básicas: mensagens simples, estimuladoras da reflexão, credíveis quanto à sua essência e motivadoras para os seus destinatários, facilitando a identificação e a adesão. Difícil? Complexo? Sem dúvida que sim. Mas não me parece que hajam caminhos melhores para fazer política nos tempos que correm.

Carlos Sezões