Thursday, October 21, 2010

Para que serve um Partido político?


Nos tempos que correm, à medida que a economia desce ao inferno e a coesão social ameaça tornar-se um pesadelo neste País, a política, os partidos e os políticos afundam, ainda mais, o seu nível de credibilidade e prestígio. Não é necessária uma sondagem assente numa amostra com validade estatística. É quase consensual a sensação de que a Politica se encontra com uma imagem extremamente negativa, fenómeno que não é apenas português, mas uma realidade na maioria das sociedades ocidentais.
Nesta análise, podemos lançar uma pergunta (propositadamente) provocatória: afinal, para que serve hoje um partido político? Desde já, um devido esclarecimento: sou militante de um partido e, como é óbvio, nunca simpatizei com uma visão demagógica e simplista que vê os políticos como seres ambiciosos e sem escrúpulos, e os partidos como a fonte de todos os males. A realidade, fria e objectiva, é outra: os partidos são essenciais a qualquer democracia. Representam estruturas mínimas de entendimento e compromisso, sem as quais era impossível construir projectos políticos consistentes e continuados no tempo. Mas, de facto, não podem acomodar-se a serem meras estruturas imóveis, desligadas da sociedade que os rodeia, em que conjuntos de pessoas (dirigentes e militantes) aguardam o desenrolar dos sucessivos ciclos eleitorais. Pelo contrário, os partidos têm papéis importantes a desempenhar. Na minha opinião, existem 4 essenciais:
1 - Assegurar a sintonia entre a agenda do poder político e a realidade vivida e sentida pelas pessoas.
Os problemas quotidianos, que afectam a felicidade e qualidade de vida dos cidadãos passam frequentemente ao lado da agenda política. Os partidos devem estar centrados na realidade e nas Pessoas e não em jogos de curto prazo, de manutenção de poder – compete-lhes este exemplo e esta prática.
2 - Gerar ideias e projectos políticos concretos
Perante novos problemas e desafios, é preciso definir princípios políticos e propostas de acção coerentes. Há sempre a sensação que é mais do mesmo e a coragem de clarificar não abunda. Manuel Maria Carrilho, pelo qual sou insuspeito de simpatia, teve uma afirmação lúcida há umas semanas atrás: os partidos devem ser "laboratórios de ideias". De facto, só assim poderão gerar, no seio de debates internos, abertos e construtivos, as soluções mais inovadoras e eficazes para os problemas que continuamente vamos encontrando na evolução das nossas sociedades.
3 - Pugnar pela coerência entre compromissos assumidos e aquilo que é efectivamente realizado.
Os partidos devem falar verdade a priori, explicitar compromissos e, depois de eleições, democraticamente, controlar a acção política de quem está no poder. Tanto em contextos nacionais com em locais, frequentemente, nas oposições fica-se pela retórica vazia pela ausência de escrutínio e de propostas alternativas diferenciadoras.
4 - Atrair novas pessoas e novas competências para a política.
Hoje é essencial, para o sucesso e credibilidade dos Partidos, a abertura à sociedade civil. Deverão, pois, criar condições favoráveis para a atracção de pessoas com reconhecidas qualificações profissionais, oriundas de meios diversos (empresariais, académicos, etc) que, mesmo não se enquadrando na disciplina partidária, possam colaborar e enriquecer as várias propostas eleitorais.
Aqui assenta a missão de um partido. E só assim se pode garantir que a política tem credibilidade e impacto e que não é apenas um conjunto de rituais maçudos nos quais ninguém se revê.

Carlos Sezões