Friday, December 17, 2010

O Portugal Positivo vencerá a pesada herança?


Nos tempos de crise em que estamos submersos, a expressão “Portugal Positivo” poderá parecer uma heresia ou uma divagação lunática. Mas não, caro(a) leitor(a), é apenas a descrição justa e apropriada para determinadas realidades que, se forem promovidas, acarinhadas e multiplicadas, poderão ser a chave do nosso futuro enquanto estado-nação.
Todos conhecemos o nosso retrato mais negro (e verdadeiro…e actual!): um país com défices de educação e literacia tremendos (pois, não estou eufórico com os resultados do PISA, considero-os apenas um bom indicador), com uma justiça indescritível em termos de ineficiência e morosidade, um sistema de saúde com um custo insustentável que tarda em reorganizar-se para os níveis de serviço pretendidos, com uma economia pouco competitiva e produtiva, com enormes “custos de contexto” que não atraem o investimento estrangeiro, uma administração pública que todos os “simplexes” do mundo não conseguem reformar, um território desordenado e um património urbano altamente degradado e finanças com um endividamento externo brutal, que poderá comprometer o futuro das próximas gerações…Enfim…já chega!
Mas temos um outro Portugal que passa ao lado deste cenário e, apesar de tudo, mostra as nossas competências, capacidades de inovação, de empreendedorismo e de obter resultados no exigente patamar da economia global. Exemplos? Aqui vão, de forma não estruturada….
Para começar, ressalvar aquilo que nos foi dado, sem termos qualquer trabalho. Temos um país abençoado pela geografia física (o clima, as paisagens naturais, a extensa costa marítima) e pela geografia humana (história e respectivo património, gastronomia e hospitalidade). Conheço vários gestores internacionais que se radicaram em Portugal, encantados por estes nossos “factores de atracção”.
Depois, no esforço dos últimos 35 anos, construímos condições para os nossos muitos casos de sucesso. Temos empresas conceituadas a nível mundial, muitas apenas de dimensão média, como a YDreams (tecnologia interactiva), a Critical Software (soluções de informática que asseguram o suporte a sistemas críticos), a Euronavy (tintas e revestimentos), Renova (papel doméstico) ou a Bial (farmacêutica). Temos produtos de qualidade que se afirmam nível global como o vinho, a cortiça o calçado até software de gestão. Temos estratégias emergentes e já bem sucedidas na área das energias (renováveis) e nas soluções de mobilidade eléctrica. Temos o Talento português a triunfar em exigentes palcos como a diplomacia (Barroso, Guterres), o desporto (Ronaldo, Mourinho) ou a alta finança (Borges, Horta Osório). No caso concreto dos recursos humanos, e passando para além destas celebridades, milhares de jovens profissionais, extremamente capazes e qualificados, triunfam por esse mundo fora, em Barcelona, Londres ou Nova Iorque.
A pesada herança, de que todos os governos se queixam quando chegam ao poder é estrutural e uma entropia real ao sucesso do país – a incapacidade de o Estado e a Sociedade se prepararem para os desafios deste século XXI. Mas, neste ponto, não irei gastar mais latim…todos os diagnósticos já foram feitos! Ou alteramos este “quadro geral” no prazo de 8-10 anos, ou não haverá muito mais a fazer. O “Portugal Positivo” mudar-se-á de armas e bagagens para bem longe e ficaremos apenas um país de sol, praia, resorts e empregados de mesa.

Carlos Sezões

Friday, December 03, 2010

Cavaco Silva em 2011


Ao que indicam todas as sondagens, Cavaco Silva prepara-se para, no próximo dia 23 de Janeiro de 2011, ser reeleito Presidente da República. Confesso que desde sempre senti uma grande proximidade e afinidade com este político invulgar que, nos últimos 30 anos, marcou a democracia portuguesa. O seu desempenho como primeiro-ministro é incontornável para quem queira perceber o Portugal do final do século XX e a sua reaparição como candidato presidencial, no final de 2005, foi o corolário óbvio de um trajecto pessoal de uma carreira política de qualidade ímpar.
Mas muitas pessoas, especialmente na minha geração, ainda se interrogam sobre a verdadeira natureza de Cavaco Silva e sobre as suas qualidades e razões da sua popularidade e sucesso eleitoral comprovados. De certa forma, a dúvida é compreensível…Cavaco não tem o perfil estereotipado do político que nos habituámos a ter aqui neste canto da Europa. Não tem o verbo fácil e a capacidade oratória de um Guterres ou de um Santana Lopes, não tem a imagem sobranceira e transbordante de confiança de um Soares, não terá o carisma simultaneamente magnético e inacessível de um Sá Carneiro ou de um Cunhal. Cavaco Silva tem, contudo, algo diferenciador, diria quase único: uma conjugação fortíssima de credibilidade, seriedade, sentido ético e experiência política.
Em primeiro lugar, a credibilidade que o seu legado de primeiro-ministro lhe confere é imensa. Quem comparar a forma de governar Portugal antes, durante e após Cavaco notará um estilo e um sentido de eficiência e eficácia inimitáveis. Quem assistiu àqueles 10 anos, viu uma estratégia concreta para o País, prioridades definidas, rigor na tomada de decisões e um sentido de profissionalismo na política. Independentemente de erros havidos (inevitáveis e inerentes a qualquer ser humano), Portugal saiu deste ciclo dotado de infra-estruturas, de equipamentos, de um tecido económico e de modelos de governação adequados aos desafios do mundo actual.
Depois, temos a sua seriedade e sentido ético, postos à prova inúmeras vezes nos últimos anos. Cavaco Silva nunca deixou de sublinhar aquilo que em cada momento lhe pareceu importante, fosse ou não um assunto que granjeasse mediatismo ou simpatias. Os exemplos são vários. Nas questões da competitividade da economia portuguesa, do défice e da dívida foi dos primeiros a falar, enquanto estávamos entretidos com o Euro 2004 ou outras pseudo-prioridades. Nas questões constitucionais (estatuto político dos Açores) não receou a incompreensão ou apatia dos portugueses em férias para vir à televisão alertar para a monstruosidade legislativa que aí vinha. Na questão da lei do divórcio, não receou parecer antiquado quando alertou para as suas consequências sociais, especialmente nos segmentos mais carenciados da população. Curiosamente, as principais críticas a Cavaco – distância, excessivo formalismo, gestão cuidada das palavras e dos silêncios - são apenas sintomas menores dos traços de personalidade e das competências que o tornam a escolha óbvia nestes tempos tão conturbados e incertos.
O que pode representar Cavaco em 2011? Em primeiro lugar, representará segurança, certeza e previsibilidade de actuação. Representará uma garantia do bom funcionamento das instituições e um travão eficaz contra tentações partidárias (venham donde vierem) de controlo excessivo do Estado e da nossa sociedade. Representará, por último, um testemunho e um exemplo de um homem sério que, apenas pelo seu trabalho e pelo seu mérito (sem as facilidades de berço ou de apadrinhamento tão normais em Portugal), desempenha as funções de mais alto magistrado da Nação. Nos tempos que correm, de descrédito e descrença na política, isto não é pouco!

Carlos Sezões