Thursday, February 17, 2011

Um Turismo (realmente) competitivo no Alentejo


Na conferência “Alqueva: os próximos 10 anos”, realizada em Reguengos de Monsaraz no passado fim-de-semana, pela Associação Alentejo de Excelência, foi sublinhada a importância que o turismo tem no âmbito deste grande empreendimento. Os projectos em curso, pela sua ambição e posicionamento de elevadíssima qualidade, poderão efectivamente ser uma âncora para o desenvolvimento daquela zona, até há poucos anos desfavorecida pela geografia. Transpondo de uma óptica “micro”, para uma análise mais “macro”, ao nível do Alentejo, é importante percebermos como o carácter estratégico do turismo merece a devida atenção dos decisores políticos ao nível nacional, regional ou local.
Primeiro ponto: as características únicas e as enormes potencialidades turísticas do Alentejo estão à vista e são conhecidas por todos. O clima, a monumentalidade de vilas e cidades (exemplo máximo: Évora, Património Mundial), a paisagem natural das planícies, as belezas da faixa litoral e a gastronomia são excelentes focos de atracção para a maioria dos segmentos turísticos.
Diga-se, em abono da verdade, que os últimos números sobre a evolução do turismo na região são animadores. O Alentejo registou, em 2010, um crescimento de 6,7% nas dormidas para um total de 1,179 milhões, face às 1,104 milhões de 2009, de acordo com os dados do INE, divulgados Entidade Regional de Turismo (ERT) do Alentejo. Este terá sido, pois, o melhor ano turístico de sempre.
Convém, contudo, não descansar sobre os primeiros sucessos uma vez que muito há ainda a fazer, para conseguirmos atingir a escala e os níveis de qualidade desejados. Analisando as questões de um ponto de vista de marketing, há que ter uma noção das reais necessidades e expectativas dos públicos-alvo nacionais e internacionais e conceber “produtos turísticos” de qualidade superior. Ora o produto-base, já existe, efectivamente – o Alentejo real, o território com as características acima descritas. Poderemos depois descortinar alguns produtos finais, para os quais o Alentejo detém vantagens competitivas únicas: desde as chamadas city short-breaks (ex. fins de semana em Évora) passando pelo turismo cultural, desde o tradicional golfe ao turismo natureza (com taxas de crescimento elevadas ano em termos internacionais), o turismo de saúde e bem-estar, o turismo náutico (com condições únicas no Alqueva) e o touring (circuitos turísticos) cultural e paisagístico. Cruzando estes produtos com os vários “Alentejos” geográficos, teremos aqui a possibilidade de criar novos pólos com elevados níveis de atractividade.
Um factor será, na minha óptica, decisivo para mudar o paradigma do visitante (e da respectiva receita média): a oferta cultural, recreativa e de lazer. É necessário que agentes privados e públicos se esforcem por potenciar espectáculos (música, teatro, dança, multimédia), eventos desportivos, feiras, exposições temáticas, enfim, algo que, de forma estruturada e coerente, ajude a vender a imagem da região e transforme o visitante de passagem (que fica uma ou duas noites) num visitante que permaneça (pelo menos uma semana).
Como factor crítico de sucesso, identifico ainda a necessária qualificação e formação na área, que permita capacitar em quantidade e qualidade os milhares de profissionais necessários para acolher o turismo na dimensão desejada.
Apenas a promoção destas condições prévias permitirá, a meu ver, a realização da missão turística da Região, de forma bem sucedida e sustentada – e posicionar o Alentejo como marca de excelência no turismo mundial.


Carlos Sezões

Friday, February 04, 2011

Coesão Territorial…há que pregar e praticar!


Primeiro caso: assistimos a um período de obras, previsto para 12 meses, que teve início em Maio do ano passado, na ligação ferroviária diária da CP entre Lisboa e Évora. Período imenso, com impactos fortíssimos na qualidade de vida de muitas pessoas que fazem a sua vida entre as duas cidades. O sacrifício teve uma boa causa e terá a sua recompensa? Não é assim tão evidente. O serviço para Évora sofrerá uma redução em termos de conforto e comodidade. Em vez de carruagens Intercidades rebocadas por uma máquina eléctrica, a CP optou por uma solução mais barata, com base em automotoras eléctricas. Ainda no mesmo tema ferroviário, a cidade de Beja perde os comboios directos para a capital devido aos transbordos que passarão a ser obrigatórios em Casa Branca.
Segundo caso: em todo o Alentejo, foram já anunciados, desde meados do ano transacto, os encerramentos de dezenas de escolas básicas. Se os critérios de uma racionalidade económica mínima e de eficácia pedagógica parecem razoáveis, tal já não acontece quando existem outras variáveis. Se, de facto, encontramos aqui instituições que preenchem todos os requisitos pedagógicos e que, estando localizadas em regiões isoladas, assumem uma função determinante para o desenvolvimento de pequenas comunidades rurais, talvez o caminho seguido não pareça afinal tão óbvio e consensual.
Isto leva-nos à velha discussão sobre a coesão territorial, isto é, a nossa capacidade tornar as várias regiões deste pequeno país relativamente equitativas em termos de oportunidades de desenvolvimento, reduzindo as disparidades existentes e promovendo, dentro do possível, a cooperação entre elas. Se considerarmos, no limite, que um País é apenas o conjunto das suas pessoas, podemos acantonar os 10 milhões de portugueses na faixa litoral e poupar o que se gastaria em infra-estruturas no resto do território. Mas o País é também o seu espaço e, como é hoje de bom senso concordar, a qualidade de vida e desenvolvimento sustentável de uma população aumenta com a uma visão integrada que promova os vários territórios (com os seus recursos) e os torne atractivos, essencialmente em termos de habitabilidade e empregabilidade.
É por isso que, quando leio ou ouço os casos acima mencionados fico sempre com a convicção que existe aqui uma gravíssima miopia política e estratégica. Se nos resignarmos apenas a fazer contas à demografia e à economia pública, vamos continuar a retirar os equipamentos públicos essenciais e promover o abandono de boa parte do nosso território.
Que resposta? Não há soluções mágicas, mas não é preciso muita imaginação para perceber que deveríamos muitas vezes fazer raciocínios inversos. Em concreto, pensar a nível macro, regional, e fazer apostas concretas, investindo em criar ou manter infra-estruturas básicas para a competitividade regional e para a qualidade de vida dos respectivos habitantes. Fazê-lo criando soluções inter-municipais (com a colaboração da administração central) e reduzindo muitos dos desperdícios que por aí ainda se fazem. Se continuarmos, pelo contrário, pela via do desinvestimento constante, ainda teremos no interior de Portugal o deserto que um certo ministro em tempos profetizou.

Carlos Sezões