Thursday, September 22, 2011

Dos egoísmos nacionais aos federalismos de ocasião

"Um político pensa nas próximas eleições; um estadista nas próximas gerações." James Clarke
Já por mais que uma vez escrevi que a Europa não tem dado uma boa imagem de si própria neste período conturbado (e simultaneamente desafiador), iniciado com a crise de 2008. O estado do sistema financeiro, o nível das dívidas soberanas, a anemia das economias e o crescimento do desemprego (ciclo quase vicioso, em que dificilmente se isola a causa e o efeito), colocam uma ameaça seríssima à coesão económica e social da Europa e à futura sobrevivência do Euro. Como em muitas outras áreas ou ocasiões na história, os egoísmos nacionais têm aqui um papel importante, no passado e no presente a que todos assistimos. Os egoísmos de quem tentou, durante décadas, angariar ao máximo fundos estruturais mas evidenciou um empenho bem menor na sua correcta aplicação. Egoísmos de quem, quando os tempos passaram a ser menos risonhos, começou a esconder as contas reais e a manipular estatísticas nacionais. E os egoísmos, mais recentes, de quem pretende defender uma supremacia nos processos de decisão europeus, agradar pontualmente aos seus eleitorados e pôr em causa o futuro do projecto europeu. A resposta está numa visão de longo prazo. Neste mundo multipolar, em que potências emergentes (China, Brasil, Índia, México ou Turquia) terão um peso cada vez maior nas decisões mundiais e em que o espaço central da economia e política mundial será cada vez mais o Pacífico em detrimento do Atlântico, importa que a Europa fale a uma só voz, ganhando a consciência que são mais as questões que unem que as que separam os Europeus. Em suma, fazer deste mercado com mais de 500 milhões de consumidores, com os melhores níveis de qualificações e de competências no mundo uma voz respeitada e influente nos grandes desafios do mundo actual (geopolítica, energia, terrorismo e segurança internacional, comércio mundial ou políticas ambientais). Se o Euro cair e a Europa voltar a ser apenas uma estrutura de cooperação económica, ninguém (nem mesmo a Alemanha) terá peso e relevância mundial. Mas esta vontade tem de ser genuína. Vimos agora emergir o que se pode chamar “federalismos de ocasião”: por palavras bonitas, dizem “por salvem-nos, paguem as nossas dívidas”…em troca tornamo-nos “mais europeus”. Obviamente, que isto é hipocrisia e é natural que seja olhado com reservas pelos países do norte da Europa. Eurobonds, governo económico ou harmonizações fiscais farão sentido quando todos estiverem dispostos a cumprir um conjunto de regras mínimas – e, a partir daí, a prosseguirem um caminho comum. A Europa deverá olhar para estes tempos de incerteza como uma oportunidade. Já tivemos gerações de verdadeiros líderes europeus, estadistas ao nível do grau de exigência dos contextos históricos: Churchill e De Gaulle na II Guerra Mundial, Adenauer, Monnet, Schuman e De Gasperi na criação das instituições europeias na década de 50 ou Delors, Mitterrand e Kohl na queda do bloco comunista e lançamento da União Europeia nas décadas de 80 e 90. Espera-se que a actual geração de líderes sejam mais que meros políticos de ocasião e que saibam ser lúcidos, corajosos e responsáveis. Será essa a diferença entre uma nova prosperidade ou uma longa decadência. Carlos Sezões

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