Monday, June 01, 2009

Liderança e Mudança na agenda de Portugal (Jornal Registo - 01/06/2009)

Muitos e diversos diagnósticos circulam, desde há muito, pela sociedade portuguesa sobre a essência (e em muitos casos o fatalismo) de “ser Português”. De facto, é consensual que as dimensões culturais são importantíssimas para compreender as atitudes e comportamentos dos Povos perante os desafios que se lhes colocam. A nossa “latinidade” explica muitas coisas: a rejeição da incerteza e do risco, a enorme preocupação com a segurança, a ansiedade e a pouca auto-confiança, o culto da hierarquia, a pouca orientação para o desempenho, os resultados e o mérito. Tudo isto ajuda a explicar a necessidade que temos, periodicamente, de “homens providenciais”. Depois, a nossa história muito própria traz mais condimentos. O sebastianismo, a acomodação ao Estado, o fado e a saudade, a esperança que venha de fora (as colónias primeiro, a Europa depois) a solução para restaurar a nossa grandeza, a nossa riqueza ou, apenas, alguma qualidade de vida (fraca ambição que restou das muitas ambições de séculos).
Contudo, penso (desde já, confesso, com optimismo) que nada disto é inevitável e imutável. Para além das nossas muitas qualidades (sim, também as temos!), nas dimensões da nossa vida – a nível social, económico, político e outras - necessitamos de algo que nos faz bastante falta, como compensação para as questões que atrás mencionei: Liderança. Liderança nas empresas, liderança no Estado central, liderança nas autarquias, nas Universidades e noutras organizações e sistemas sociais. Liderar significa não estar apenas a gerir o dia-a-dia, a assegurar os processos correntes, de olhar constantemente para o lado e para trás e ver se todos concordam connosco. Liderar significa olhar em frente, ter uma visão estratégica, de longo prazo, e mobilizar vontades para a atingir. Significa compromisso emocional e participação. Significa encarar e ponderar os riscos e tomar decisões com firmeza e sentido definido.
Olhemos para o mundo empresarial. As empresas bem sucedidas (conheço várias, na minha actividade profissional), com níveis de rentabilidade e de sustentabilidade ao longo do tempo não são fruto do acaso. São consequência da sua história, da forma como Líderes conseguiram promover os seus valores e as suas estratégias e de como conjuntos de pessoas (por vezes, gerações de pessoas), comprometidas com a missão da Organização, conseguiram manter elevados níveis de motivação, trabalho e resultados. Talvez precisemos destes exemplos na sociedade portuguesa, de uma forma mais transversal.
Mas, neste contexto, olhando para a nossa conjuntura política actual, não resisto a perguntar: necessitamos de um governo omnipresente, tentacular na sua influência, receoso da crítica e do “activismo” da sociedade civil e com um discurso paternalista do tipo “não se preocupem, nós tratamos de tudo”? Será um bom exemplo? Sinceramente, penso que não. Necessitamos antes de governos responsáveis, mas desafiantes, que assumam os riscos e sejam reformistas na substância e não apenas no papel. Que sejam Líderes…e não apenas gestores do pouco que ainda há para gerir.

Carlos Sezões

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