Thursday, April 05, 2012

Universidades do Futuro

Há umas semanas atrás, tive a oportunidade de promover em Lisboa um debate sobre as Universidades que queremos para o futuro, em Portugal. O tema do ensino superior, em si, tem sido alvo de discussões infindáveis, sempre à volta das questões da autonomia, do financiamento ou da qualidade do ensino prestado. Ora, num momento em que as universidades portuguesas têm de competir a nível europeu e mesmo global, com os recursos escassos que conhecemos, o diagnóstico foi fácil de efectuar, em termos dos desafios profundos a serem enfrentados: 1) A necessidade de uma relação mais intensa e próxima com o meio económico e social envolvente; 2) Conciliar um ensino superior de massas com a necessidade de se balizar em níveis de exigência elevados, produtores de elites empresariais, sociais e políticas; 3) Orientar os professores, simultaneamente, para os papéis de “geradores de conhecimento”, com foco na investigação, e de “promotores de aprendizagens”, com foco nos estudantes – como os devidos reflexos nos sistemas de avaliação de desempenho. 4) Internacionalizar, construir uma oferta global e atrair, de modo eficaz, bons alunos e professores. Naturalmente, fazer é sempre o mais complicado que diagnosticar. Lembro-me que, quando estudei Gestão de Empresas, na Universidade de Évora, há mais de uma década, muitas das questões que mencionei já eram factores de reflexão e preocupação. Fiquei, contudo, com a noção que existem alguns caminhos consensuais a seguir, de forma prioritária e simples. Primeiro, a maior abertura das universidades ao seu meio envolvente, integrando entidades externas (empresas, associações, fundações, instituições públicas…) nos seus processos de decisão, construindo parcerias, prestando mais serviços à sua comunidade (ex. consultoria), promovendo assim também receitas próprias. A Universidade do Porto, com a sua EGP (Escola de Gestão), foi um bom exemplo focado, com o grande envolvimento das maiores empresas da região a presença de alguns dos seus programas de formação nos rankings mundiais. Depois, reforçar a sintonia entre o conhecimento e as competências que são trabalhadas nos cursos e aquilo que é exigido nos mercados de trabalho. É essencial, mais do que nunca, mapear empregabilidade e saídas profissionais para percebermos se estamos a investir nas áreas certas. Será também útil a existência de órgãos de aconselhamento que apontem tendências e necessidades de competências para o futuro. É ainda essencial investir na aplicabilidade prática da investigação – temos excelentes resultados em termos da evolução do número de investigadores e da produção científica mas péssimos indicadores na utilização empresarial dessa mesma inovação. Por último, ter a ambição de criar centros de excelência de nível mundial, de modo a começar a exportar serviços de formação - a Universidade Católica, com o seu projecto específico na área do Direito (Global School of Law), que é um caso de sucesso reconhecido internacionalmente, com várias dezenas de estudantes de todo o mundo. Enfim, há que conciliar o papel da Universidade como centro de inovação e produção de conhecimento com a prestação de serviços de formação ao longo da vida. Haja visão e ambição e, este sector que muitos apenas vêem apenas como fonte de problemas, pode ser uma das áreas de sucesso do Portugal do século XXI. Carlos Sezões

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