Thursday, May 13, 2010

Quo Vadis, Europa?


No passado dia 9 de Maio celebrou-se o “Dia da Europa”- algo que acontece anualmente desde 1986, em memória da data da Declaração de Robert Schuman de 1950 que, com base nos valores de paz, solidariedade e do desenvolvimento económico e social, lançou as bases para as futuras instituições europeias. Esta “comemoração” ocorre num período conturbado e simultaneamente desafiador para a União Europeia. Enfrentamos uma ameaça séria à coesão económica e social da Europa, em virtude das crises da dívida e do défice de vários países europeus e, para muitos analistas, está mesmo em causa a futura sobrevivência do Euro. As causas já foram suficientemente escalpelizadas. Queria pois, essencialmente, olhar um pouco para o futuro da Europa, seus desafios e factores críticos de sucesso.

O primeiro desafio é o da responsabilidade. A responsabilidade de todos os estados-membros para com princípios essenciais de finanças públicas saudáveis, modelos de estado social sustentáveis e políticas que promovam o crescimento económico. Casos como a Grécia, com um défice de cerca de 14% e uma dívida pública de 100% do PIB são descredibilizadores para qualquer ideia de uma Europa forte. Precisam-se ética, coragem e sentido de honra nos compromissos assumidos.
O segundo desafio é o da renovação, da reforma progressiva do modelo social europeu. Políticas corajosas relativas à demografia, à natalidade, à imigração, ao emprego e à qualidade de vida familiar devem ser equacionadas sob pena de termos uma crise dramática nos sistemas de segurança social europeus. Alguns países (nomeadamente no sul da Europa) devem compreender que suportando administrações públicas gigantescas e ineficazes e adiando reformas relativamente às áreas sociais apenas se alimenta o problema. Um problema que, daqui a não muitos anos, irá explodir nas nossas mãos.
O terceiro desafio é o da ambição. Tomando consciência da sua força económica, (mercado com mais de 500 milhões de consumidores, que a torna a primeira potência económica do mundo), humana (melhores níveis de qualificações e de competências no mundo) e cultural, a Europa tem de se assumir como uma voz forte, respeitada no xadrez político internacional. Tal pressupõe que os egoísmos nacionais sejam colocados na gaveta e que nos grandes desafios do mundo actual (alterações climáticas, políticas energéticas, terrorismo e segurança internacional, globalização económica e financeira) se fale a uma só voz, sem as hesitações e descoordenações habituais (visíveis, por exemplo, na recente cimeira de Copenhaga).
Como tal, a Europa deverá olhar para estes tempos de incerteza como uma oportunidade. Uma oportunidade para se reformar internamente e cimentar o protagonismo da Europa em muitas áreas, sejam económicas (como a inovação e a economia do conhecimento), sejam políticas (mediação e resolução de conflitos e crises internacionais) ou outras.
Mas as Nações (e as Uniões) são constituídas por Pessoas e, no final, tudo isto terá também uma forte componente de “adesão cultural”: da mesma forma que nos sentimos portugueses, espanhóis ou italianos, sentirmo-nos também Europeus – unidos na geografia, na cultura e numa particular visão do mundo que nos torna únicos. Será essa a nossa força ou, na sua ausência, a fraqueza que nos levará da prosperidade à decadência.

Carlos Sezões

Quo Vadis, Europa?

No passado dia 9 de Maio celebrou-se o “Dia da Europa”- algo que acontece anualmente desde 1986, em memória da data da Declaração de Robert Schuman de 1950 que, com base nos valores de paz, solidariedade e do desenvolvimento económico e social, lançou as bases para as futuras instituições europeias. Esta “comemoração” ocorre num período conturbado e simultaneamente desafiador para a União Europeia. Enfrentamos uma ameaça séria à coesão económica e social da Europa, em virtude das crises da dívida e do défice de vários países europeus e, para muitos analistas, está mesmo em causa a futura sobrevivência do Euro. As causas já foram suficientemente escalpelizadas. Queria pois, essencialmente, olhar um pouco para o futuro da Europa, seus desafios e factores críticos de sucesso.

O primeiro desafio é o da responsabilidade. A responsabilidade de todos os estados-membros para com princípios essenciais de finanças públicas saudáveis, modelos de estado social sustentáveis e políticas que promovam o crescimento económico. Casos como a Grécia, com um défice de cerca de 14% e uma dívida pública de 100% do PIB são descredibilizadores para qualquer ideia de uma Europa forte. Precisam-se ética, coragem e sentido de honra nos compromissos assumidos.
O segundo desafio é o da renovação, da reforma progressiva do modelo social europeu. Políticas corajosas relativas à demografia, à natalidade, à imigração, ao emprego e à qualidade de vida familiar devem ser equacionadas sob pena de termos uma crise dramática nos sistemas de segurança social europeus. Alguns países (nomeadamente no sul da Europa) devem compreender que suportando administrações públicas gigantescas e ineficazes e adiando reformas relativamente às áreas sociais apenas se alimenta o problema. Um problema que, daqui a não muitos anos, irá explodir nas nossas mãos.
O terceiro desafio é o da ambição. Tomando consciência da sua força económica, (mercado com mais de 500 milhões de consumidores, que a torna a primeira potência económica do mundo), humana (melhores níveis de qualificações e de competências no mundo) e cultural, a Europa tem de se assumir como uma voz forte, respeitada no xadrez político internacional. Tal pressupõe que os egoísmos nacionais sejam colocados na gaveta e que nos grandes desafios do mundo actual (alterações climáticas, políticas energéticas, terrorismo e segurança internacional, globalização económica e financeira) se fale a uma só voz, sem as hesitações e descoordenações habituais (visíveis, por exemplo, na recente cimeira de Copenhaga).
Como tal, a Europa deverá olhar para estes tempos de incerteza como uma oportunidade. Uma oportunidade para se reformar internamente e cimentar o protagonismo da Europa em muitas áreas, sejam económicas (como a inovação e a economia do conhecimento), sejam políticas (mediação e resolução de conflitos e crises internacionais) ou outras.
Mas as Nações (e as Uniões) são constituídas por Pessoas e, no final, tudo isto terá também uma forte componente de “adesão cultural”: da mesma forma que nos sentimos portugueses, espanhóis ou italianos, sentirmo-nos também Europeus – unidos na geografia, na cultura e numa particular visão do mundo que nos torna únicos. Será essa a nossa força ou, na sua ausência, a fraqueza que nos levará da prosperidade à decadência.

Carlos Sezões