Friday, October 30, 2009

Alentejo: uma agenda para a atractividade regional


O início de um novo ciclo político deve ser encarado como um momento propício à mudança. Tanto a nível nacional como regional. O Alentejo atravessa um momento crítico para a definição de estratégias concretas. É necessário que a faça! Perguntar-me-ão como fazer? Ou se a forma de o fazer será através da sempre polémica Regionalização? Devo clarificar que na minha óptica, frequentemente, os modelos são o menos importante. Acredito sinceramente que deva existir um patamar de decisão entre os municípios e o poder central, até porque muitas decisões têm efectivamente impacto e escala regional. Agora é importante que qualquer solução a implementar seja simples, funcional e não crie uma nova burocracia regional como o que foi proposto no final da década de 90. Deverá ter princípios de democraticidade, fomento da participação e subsidariedade em relação aos municípios.
Mas, deixando as questões da forma para o momento mais oportuno (não tardará), passemos ao conteúdo. Aqui, para mim a escolha é clara: há que definir estratégias ambiciosas viradas para a atractividade. De uma forma sintética e simples, há que atrair famílias, profissionais qualificados, empresas e turismo. Diz-se que o Alentejo está na moda. É verdade, mas apenas para a modalidade de fim-de-semana de lazer, eventualmente prolongado. Não chega! Há que trabalhar os factores de atracção: a qualidade de vida e o potencial de crescimento dos eixos económicos que definirmos como prioritários (ex. turismo, cultura…).
Aqui, muito há a fazer com vista a construir estes factores. Pensando na atracção e fixação de Famílias e Profissionais, num cenário de médio prazo, de 2 a 5 anos, a agenda dos decisores políticos regionais poderia estar focalizada nas seguintes políticas e intervenções:
- Criar planos regionais e municipais de marketing territorial, sustentados nos traços diferenciadores das cidades/ sub-regiões, no sentido de promover a atractividade local;
- Estruturar uma política de aldeias, vilas e cidades com prioridade na regeneração urbana e na recuperação do edificado, no âmbito de estratégias de recuperação rápida dos centros históricos (através de soluções inteligentes como os Fundos de Desenvolvimento Urbano);
- Promover a oferta de habitação a custos controlados nos centros urbanos, através de políticas de solos e de licenciamento inteligentes;
- Desenvolver políticas fiscais (muito) favoráveis à instalação de famílias, através de instrumentos como o IRS, o IMI, o IMT e as taxas urbanísticas;
- Desenvolver estratégias de “urbanismo de proximidade” e de animação dos centros históricos em termos comerciais e culturais, promovendo o aproveitamento e a fruição dos espaços públicos; a atracção de actividades criativas poderá ser um instrumento pertinente para a boa execução estas estratégias.
- Aproveitar as actuais (e futuras) acessibilidades para atracção de negócios e profissionais para quem a variável logística seja um factor de decisão.

Nada disto é complicado ou utópico. Com as condições básicas, uma vila ou cidade média no eixo Lisboa-Madrid, a uma hora e meia da capital portuguesa, deve assumir-se como uma opção de vida para quem neste momento (sobre)vive nos subúrbios lisboetas. E muitos portugueses, essencialmente nos segmentos etários mais jovens, estão dispostos a fazê-lo. Mas teremos de ser nós, Alentejanos, a construir os nossos factores de atracção. Precisa-se de muita cooperação regional e intermunicipal! Sem conservadorismos inúteis e com muita ambição!

Saturday, October 17, 2009

Vox Populi (Jornal Registo - 12/10/2009)


Sinceramente, na sociedade democrática em que vivo, sempre tive como máxima que o povo tem sempre razão. Sempre! Quando brinda o meu lado com vitórias retumbantes como quando inflige dolorosas derrotas. Como tal, os resultados obtidos, por muito injustos que por vezes possam parecer, são sempre merecidos, fruto de algo – seja da substância (candidatos, programas), seja da forma (campanhas e formas de comunicação).
Neste longo período de campanhas eleitorais que agora terminou, ouvi dezenas ou (ou mesmo centenas) de desabafos, comentários, aplausos ou críticas aos muitos protagonistas políticos que desfilaram no palco mediático. Tenho-os em muita consideração! Representam a voz do povo, muitas vezes pequenas impressões avulsas que significam mais que longas dissertações. Tentei sintetizar algumas que representam, para mim, a sabedoria popular que ninguém na actividade política devia esquecer. Aqui vão aquelas que para mim são mais evidentes:
As pessoas querem clareza.
O povo não gosta de tabus. Nos últimos 15 anos penalizou muitos protagonistas políticos por causa disso. A clareza nas ideias e nas intenções é essencial. As pessoas querem ouvir e saber se determinado candidato “quer ou não quer maioria”, “o que vai fazer com os votos”, “que alianças fará”, “que postura terá na oposição”. Como opinião pessoal, acrescento que qualquer candidato a primeiro-ministro só teria a ganhar se decidisse apresentar a priori a sua equipa (pelo menos, nos lugares-chave do governo) – demonstraria confiança, capacidade e coragem.
As pessoas querem ouvir falar de problemas concretos
Não é por acaso que os partidos que maiores subidas registaram nas últimas legislativas foram os mais acutilantes em termos de temas concretos (segurança, desemprego, sobrevivência das PME’s) que, realmente, estão nas preocupações do dia-a-dia. Mesmo acusados frequentemente de populismo, não mudaram o registo e a avaliação dos eleitores está à vista.
As pessoas querem saber “como” e “porquê”
Cada vez mais, pergunta-se como e porquê no que concerne às soluções apresentadas. Felizmente, muitos eleitores estão mais exigentes na forma como interpretam as propostas. Tantas vezes que eu ouvi “isso é o que todos dizem” ou “isso é o que todos querem, mas como é que ele vai fazer isso?”…sinal que a preparação política e o real conhecimento dos “dossiers” é hoje essencial.
As pessoas querem políticos genuínos e transparentes
Os eleitores não gostam de artificialidades. Os políticos devem mostrar-se como são na realidade e não com “máscaras” que caem facilmente ao primeiro abanão. “Olha para o ar dele(a)” é um comentário de desconfiança legítima, ainda muito escutado nas últimas semanas.
As pessoas querem responsabilidade e consensos mínimos
Quantas vezes não ouvimos já o desabafo “eles não se entendem!”. Por muito que respeitem a luta política, as pessoas não apreciam ódios de estimação e elevados níveis de conflitualidade que afectam, não raras vezes, os limites do respeito. Quem não tem cabeça fria e vai por esta via, paga sempre por isso.
As pessoas querem políticos com sentido de compromisso
Os políticos que estão sempre prontos para qualquer lugar e vêm os cargos apenas como trampolim não vão longe. Até podem ter sucesso na primeira vez mas, com o tempo, a sua falta de ética e compromisso virá ao de cima.
Como tal, quem procura respostas para êxitos ou fracassos não necessita, na minha óptica, de contratar onerosos gurus e pseudo-especialistas de comunicação política. Basta ouvir (sem preconceitos) a voz do povo.