Thursday, June 18, 2009

Capital Humano: que aprendizagens, que competências queremos? (Jornal Registo 15/06/2009)

Tem sido dito e repetido (e bem!) que Portugal deve apostar no desenvolvimento dos seus recursos humanos. Estaremos todos de acordo. Nos tempos que correm, mais do que nunca, serão as pessoas e o seu capital de conhecimentos e competências a marcar a diferença neste mundo globalizado. A questão será por onde começar e o que fazer em concreto.
O actual governo apontou um caminho: o reconhecimento e certificação de competências, base do mediático e emblemático programa “Novas oportunidades”. Nada tenho a opor à bondade das intenções. E reconheço que, para algumas pessoas, destinatárias do programa, seja uma marca de integração e progressão e tenha um carácter simbólico forte. Assim como reconheço o risco da imagem de facilitismo que pode transmitir para o exterior e a fama (seja ela justa ou injusta) de que se está a trabalhar apenas para as estatísticas.
Mas, sinceramente, parece-me pouco e que não será esta a questão essencial e estruturante. As grandes questões serão o nosso modelo de aprendizagem, o que queremos fazer dele e o papel das instituições que o sustentam.
Nas últimas semanas, duas entrevistas que tive a oportunidade de ler reforçaram a as minhas convicções sobre esta matéria. O filósofo e sociólogo francês Edgar Morin, que esteve m Portugal em meados de Maio, veio defender uma reforma bastante radical do modelo de ensino das escolas e das universidades, enfatizando a necessidade de passarmos da actual 'hiperespecialização' para uma aprendizagem mais ampla e generalista, que integre as várias áreas do conhecimento e da cultura, que prepare os jovens lidar com o imprevisto e a mudança, para desenvolver as competências para atacar os problemas gerais e daí partir então para problemas específicos.
Tive também a oportunidade de ler declarações de António Câmara, presidente da YDreams, empresa portuguesa pioneira mundial em soluções tecnológicas de interactividade e realidade virtual. A sua tese é simples e directa: a aprendizagem e inovação na Europa (e em Portugal) têm um modelo arcaico e ineficiente, pouco viradas para o empreendedorismo e para o impacto no tecido empresarial – tudo “embrulhado” em muita burocracia e poucos resultados.
Daqui, atrevo-me a deduzir dois corolários: 1) não estamos a preparar as novas gerações com os conteúdos e conhecimentos essenciais à sua cidadania e à sua empregabilidade neste século XXI; e 2) não estamos a criar oportunidades para uma aprendizagem mais experimental, “vivencial”, que permita partir rapidamente do conhecimento para a aplicabilidade – e, nas áreas empresariais e tecnológicas, tal será essencial.
Perguntas: será que a energia e recursos aplicados noutras prioridades não poderiam, com maior retorno, ser aplicados na criação de modelos ou projectos-piloto (ex. uma nova universidade de excelência) que tornassem Portugal um case-study mundial e um dos lugar mais atractivos e vibrantes para estudar, investigar e começar uma vida profissional? Em que, efectivamente, se investisse na formação e desenvolvimento de competências pertinentes para cada jovem poder enfrentar os desafios destes novos tempos? Requisito essencial: vontade política!

Carlos Sezões

0 Comments:

Post a Comment

<< Home