Monday, October 15, 2007

Notas soltas do Congresso...

Os Congressos do PSD, hoje como sempre, são pequenas amostras, reflexos da sociedade portuguesa, com toda a sua teia de anseios, preocupações e aspirações. Dos modos de geração de rupturas à criação de consensos, da veneração do poder à construção de projectos pessoais e de grupo, do mito dos homens providenciais às "lutas de classes" (numa versão muito própria e por vezes insólita), cada uma destas reuniões daria para várias teses na área da psicossociologia.

As eleições directas tiraram parte da adrenalina do evento, mas a tensão e a emoção mantêm-se nas expectativas sobre os posicionamentos das figuras-chave do partido que, naturalmente, condicionarão as lideranças já eleitas.

Neste âmbito, o Congresso hoje finalizado trouxe-me algumas evidências que marcarão os próximos tempos e que aqui deixo de forma solta:

- A cada vez maior diversidade de correntes e tendências que o novo líder, obrigatoriamente terá de gerir (e, se possível, tentar federar) - até porque se percebe que os indefectíveis da nova direcção não são assim tão maioritários;

- A noção de que, afinal, muitos dos "notáveis" se afastarão ou esperarão para ver, não se ligando por agora à nova liderança;

- A percepção que, afinal, a "renovação" se fez repescando figuras com provas dadas no passado (Couto dos Santos, Arlindo de Carvalho, Duarte Lima e outros) e não com novos valores que tragam verdadeiramente a inovação nas projectos e nas práticas;

- A preocupação de Luís Filipe Meneses em apresentar conteúdos programáticos aprofundados para contrariar o estigma do populismo, sem linha de rumo e sem coerência - preocupação patente no seu longuíssimo discurso final, que se justifica e foi bem sucedida;

- A sensação de virá aí um posicionamento do novo PSD "à esquerda" do Governo em muitas das matérias (opção claramente errada, na minha óptica);

- A aposta no lançamento para cima da mesa (oportuno, a meu ver) da construção de uma nova Constituição, que não seja apenas um remendo da actual e que responda claramente aos desafios de um sistema político para o séc. XXI;

- O regresso (ou verdadeira emergência) de um protagonista, de seu nome Pedro Passos Coelho, que, aferindo pela sua excelente intervenção, promete marcação crítica e escrutinadora do desempenho da nova liderança - prenúncio de uma nova geração?

Um novo Congresso do PSD seguirá dentro de momentos...

Saturday, October 06, 2007

Desemprego e demagogias

Os recentes números do desemprego em Portugal que revelam um pesadelo: taxa actual de 8,3 %, sendo o país da União Europeia em que o desemprego mais cresceu nos últimos 12 meses. Questão preocupante nos números, verdadeiramente dramática na perspectiva pessoal e familiar.

Primeira nota: não venho com isto atirar pedras ao actual governo como único culpado e responsável. As causas são muitas e variadas (na maioria das vezes de índole estrutural) e não se encontram nas explicações simplistas que alguma demagogia político-partidária, frequentemente, nos veicula pela comunicação social. Desde o nosso modelo ecómico de desenvolvimento (sensível a condicionantes externas), à inflexibilidade do mercado de trabalho, ao carácter incipiente do nosso tecido empresarial, a questões culturais inibidoras da capacidade de iniciativa, do empreendedorismo e da inovação, muitas são as razões desta situação.

Segunda nota: não sendo único culpado, será justo reconhecer que o actual governo não tem contribuído seriamente para inverter ou minorar esta situação. A política de propaganda oficial já não engana: não são investimentos avulsos de criação de 100 ou 200 postos de trabalho, por vezes repetidamente anunciados até à exaustão, que escondem ou compensam os sectores em crise que perdem milhares de trabalhadores todos os meses.

Vamos finalmente falar sem demagogias ou má fé? Então comecemos por alguns temas:
- expanção das actuais vias profissionalizantes do ensino secundário, garantindo uma dupla certificação, escolar e profissional;
- aposta em formação para o empreendedorismo, estimulando o gosto pelo risco, pela inovação;
- garantia de ofertas formativas focalizadas nas competências básicas de gestão para empresários/ gestores de PME's;
- orientação dos agentes envolvidos na formação para sectores e funções estratégicas;
- utilização da política fiscal como instrumento para a competitividade;
- flexibilização da contratação e cessão do vículo laboral;
E muitas outras!

Para que não tenhamos os dois extremos no mesmo país: o Portugal dos direitos adquiridos e o Portugal sem oportunidades. Para que o debate sobre o desemprego não se fique pela demagogia fácil ou pela propaganda ridícula!