Sunday, July 28, 2013

Alternativas…

Todo o debate político português está, nos últimos 2 anos, centrado exclusivamente na questão da “troika” vs. “alternativa”. Em concreto, se existe ou não um caminho diferente à actual receita que o governo, a União Europeia e o FMI vêm aplicando por aqui, com mais ou menos eficácia, nos últimos tempos. Muito se tem discutido, desde a intensidade da terapêutica (que muitos alegam ser excessiva, mal “calibrada”) às motivações da mesma (há quem veja apenas um conjunto de medidas técnicas indispensáveis, há quem veja uma conspiração da Alemanha contra o sul da Europa). Nunca gostei de fundamentalismos e de respostas absolutas, do estilo “preto-e-branco” ou “certo ou errado”. Também não me revejo no fatalismo e na psicologia negativa de que está tudo perdido e nada há a fazer senão estagnar, empobrecer e esperar que melhores dias caiam do céu. Para começar, penso que existem sempre alternativas. Todos os problemas, genericamente, terão várias soluções…agora teremos sempre de avaliar se as soluções não serão piores que o problema. Um exemplo: a solução, muito mediatizada nos últimos meses, de que a saída do euro seria o remédio-santo para a nossa falta de competitividade e de crescimento económico. Se nestas variáveis existiriam impactos benéficos, a curto prazo, a mais que provável perda de riqueza real, de credibilidade e de estabilidade, tornam esta opção uma não-solução. Ficaríamos, seguramente, bem pior que hoje. Depois temos a alternativa que classifico como “paradisíaca”, aflorada frequentemente pela oposição ao governo e que se baseia na premissa de que basta vontade para voltarmos a ter o “paraíso na terra”: de forma simples, mais tempo, mais dinheiro (ou pelo menos uma delas), menos cortes e mais investimento público levariam a mais economia e mais empregos. Partindo do princípio (irrealista) de que os credores nos fariam todas as vontades, em função dos nossos lindos olhos, fica a questão de ver como mais dinheiro despejado sobre a economia seria mesmo a panaceia para todos os nossos males. Para quem não se lembra, tal foi a receita na década de 2000-2010 e o nosso crescimento foi anémico, inexistente ou mesmo negativo. A minha experiência profissional na consultoria de gestão diz-me que se não tivermos um consenso mínimo em relação ao diagnóstico, dificilmente poderemos, em conjunto, mobilizar-nos para a terapêutica – seja o nosso “paciente” uma empresa, seja, neste caso, um país. Acho que a oposição ao governo e as outras forças sociais que, legitimamente, vão fazendo ouvir a sua voz, ainda não perceberam que todo este problema não é uma equação simples de austeridade vs. crescimento, é algo bem mais complexo. Baseia-se no modelo insustentável que temos, que não pode ser pago pelos nossos actuais recursos. Baseia-se em percebermos como podemos não tirar tantos recursos financeiros aos nossos agentes económicos, cidadãos e empresas (que estão esmagados pelo garrote fiscal), mas antes deixá-los reinvestir de forma reprodutiva. Em síntese, ter austeridade no Estado, mas apostar numa agenda de crescimento para a sociedade. Se conseguirmos um consenso mínimo nesta análise, existirão, com a criatividade e inovação características dos portugueses, muitas e boas alternativas a explorar. Carlos Sezões

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