Saturday, October 17, 2009

Vox Populi (Jornal Registo - 12/10/2009)


Sinceramente, na sociedade democrática em que vivo, sempre tive como máxima que o povo tem sempre razão. Sempre! Quando brinda o meu lado com vitórias retumbantes como quando inflige dolorosas derrotas. Como tal, os resultados obtidos, por muito injustos que por vezes possam parecer, são sempre merecidos, fruto de algo – seja da substância (candidatos, programas), seja da forma (campanhas e formas de comunicação).
Neste longo período de campanhas eleitorais que agora terminou, ouvi dezenas ou (ou mesmo centenas) de desabafos, comentários, aplausos ou críticas aos muitos protagonistas políticos que desfilaram no palco mediático. Tenho-os em muita consideração! Representam a voz do povo, muitas vezes pequenas impressões avulsas que significam mais que longas dissertações. Tentei sintetizar algumas que representam, para mim, a sabedoria popular que ninguém na actividade política devia esquecer. Aqui vão aquelas que para mim são mais evidentes:
As pessoas querem clareza.
O povo não gosta de tabus. Nos últimos 15 anos penalizou muitos protagonistas políticos por causa disso. A clareza nas ideias e nas intenções é essencial. As pessoas querem ouvir e saber se determinado candidato “quer ou não quer maioria”, “o que vai fazer com os votos”, “que alianças fará”, “que postura terá na oposição”. Como opinião pessoal, acrescento que qualquer candidato a primeiro-ministro só teria a ganhar se decidisse apresentar a priori a sua equipa (pelo menos, nos lugares-chave do governo) – demonstraria confiança, capacidade e coragem.
As pessoas querem ouvir falar de problemas concretos
Não é por acaso que os partidos que maiores subidas registaram nas últimas legislativas foram os mais acutilantes em termos de temas concretos (segurança, desemprego, sobrevivência das PME’s) que, realmente, estão nas preocupações do dia-a-dia. Mesmo acusados frequentemente de populismo, não mudaram o registo e a avaliação dos eleitores está à vista.
As pessoas querem saber “como” e “porquê”
Cada vez mais, pergunta-se como e porquê no que concerne às soluções apresentadas. Felizmente, muitos eleitores estão mais exigentes na forma como interpretam as propostas. Tantas vezes que eu ouvi “isso é o que todos dizem” ou “isso é o que todos querem, mas como é que ele vai fazer isso?”…sinal que a preparação política e o real conhecimento dos “dossiers” é hoje essencial.
As pessoas querem políticos genuínos e transparentes
Os eleitores não gostam de artificialidades. Os políticos devem mostrar-se como são na realidade e não com “máscaras” que caem facilmente ao primeiro abanão. “Olha para o ar dele(a)” é um comentário de desconfiança legítima, ainda muito escutado nas últimas semanas.
As pessoas querem responsabilidade e consensos mínimos
Quantas vezes não ouvimos já o desabafo “eles não se entendem!”. Por muito que respeitem a luta política, as pessoas não apreciam ódios de estimação e elevados níveis de conflitualidade que afectam, não raras vezes, os limites do respeito. Quem não tem cabeça fria e vai por esta via, paga sempre por isso.
As pessoas querem políticos com sentido de compromisso
Os políticos que estão sempre prontos para qualquer lugar e vêm os cargos apenas como trampolim não vão longe. Até podem ter sucesso na primeira vez mas, com o tempo, a sua falta de ética e compromisso virá ao de cima.
Como tal, quem procura respostas para êxitos ou fracassos não necessita, na minha óptica, de contratar onerosos gurus e pseudo-especialistas de comunicação política. Basta ouvir (sem preconceitos) a voz do povo.

1 Comments:

At 9:59 PM, Blogger Alentejano said...

Pois! Mas cuidado com a voz do povo quando ela está intoxicada, manipulada, distorcida.
É preciso ouvir um voz que seja limpída, sem ruídos de fundo. Ás vezes é preciso saber ouvir o silêncio porque o melhor silêncio é o mais profundo.

 

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