Friday, December 03, 2010

Cavaco Silva em 2011


Ao que indicam todas as sondagens, Cavaco Silva prepara-se para, no próximo dia 23 de Janeiro de 2011, ser reeleito Presidente da República. Confesso que desde sempre senti uma grande proximidade e afinidade com este político invulgar que, nos últimos 30 anos, marcou a democracia portuguesa. O seu desempenho como primeiro-ministro é incontornável para quem queira perceber o Portugal do final do século XX e a sua reaparição como candidato presidencial, no final de 2005, foi o corolário óbvio de um trajecto pessoal de uma carreira política de qualidade ímpar.
Mas muitas pessoas, especialmente na minha geração, ainda se interrogam sobre a verdadeira natureza de Cavaco Silva e sobre as suas qualidades e razões da sua popularidade e sucesso eleitoral comprovados. De certa forma, a dúvida é compreensível…Cavaco não tem o perfil estereotipado do político que nos habituámos a ter aqui neste canto da Europa. Não tem o verbo fácil e a capacidade oratória de um Guterres ou de um Santana Lopes, não tem a imagem sobranceira e transbordante de confiança de um Soares, não terá o carisma simultaneamente magnético e inacessível de um Sá Carneiro ou de um Cunhal. Cavaco Silva tem, contudo, algo diferenciador, diria quase único: uma conjugação fortíssima de credibilidade, seriedade, sentido ético e experiência política.
Em primeiro lugar, a credibilidade que o seu legado de primeiro-ministro lhe confere é imensa. Quem comparar a forma de governar Portugal antes, durante e após Cavaco notará um estilo e um sentido de eficiência e eficácia inimitáveis. Quem assistiu àqueles 10 anos, viu uma estratégia concreta para o País, prioridades definidas, rigor na tomada de decisões e um sentido de profissionalismo na política. Independentemente de erros havidos (inevitáveis e inerentes a qualquer ser humano), Portugal saiu deste ciclo dotado de infra-estruturas, de equipamentos, de um tecido económico e de modelos de governação adequados aos desafios do mundo actual.
Depois, temos a sua seriedade e sentido ético, postos à prova inúmeras vezes nos últimos anos. Cavaco Silva nunca deixou de sublinhar aquilo que em cada momento lhe pareceu importante, fosse ou não um assunto que granjeasse mediatismo ou simpatias. Os exemplos são vários. Nas questões da competitividade da economia portuguesa, do défice e da dívida foi dos primeiros a falar, enquanto estávamos entretidos com o Euro 2004 ou outras pseudo-prioridades. Nas questões constitucionais (estatuto político dos Açores) não receou a incompreensão ou apatia dos portugueses em férias para vir à televisão alertar para a monstruosidade legislativa que aí vinha. Na questão da lei do divórcio, não receou parecer antiquado quando alertou para as suas consequências sociais, especialmente nos segmentos mais carenciados da população. Curiosamente, as principais críticas a Cavaco – distância, excessivo formalismo, gestão cuidada das palavras e dos silêncios - são apenas sintomas menores dos traços de personalidade e das competências que o tornam a escolha óbvia nestes tempos tão conturbados e incertos.
O que pode representar Cavaco em 2011? Em primeiro lugar, representará segurança, certeza e previsibilidade de actuação. Representará uma garantia do bom funcionamento das instituições e um travão eficaz contra tentações partidárias (venham donde vierem) de controlo excessivo do Estado e da nossa sociedade. Representará, por último, um testemunho e um exemplo de um homem sério que, apenas pelo seu trabalho e pelo seu mérito (sem as facilidades de berço ou de apadrinhamento tão normais em Portugal), desempenha as funções de mais alto magistrado da Nação. Nos tempos que correm, de descrédito e descrença na política, isto não é pouco!

Carlos Sezões

0 Comments:

Post a Comment

<< Home