Monday, February 01, 2010

Geração Perdida?


Geração perdida...A expressão original data, como alguns saberão, da década de 20 do século passado. Ao que parece, a sua autoria coube à escritora Gertrude Stein e, neste grupo fatídico, incluir-se-iam intelectuais e escritores como o grande Ernest Hemingway, Ezra Pound, Scott Fitzgerald e T. S. Eliot, entre outros. Pressupunha, em primeiro lugar, um estado de espírito: uma atitude pessimista, melancólica, de falta de fé e esperança no mundo. A elevada (e desnecessária) mortandade da guerra 1914-18, a falta de referências morais, a impotência dos governos para garantir a estabilidade política, o desenvolvimento económico e o emprego (que originou, nesta altura, à emergência dos extremismos fascistas e comunistas) levou a que se impusesse neste grupo uma atitude de depressão e descrença, afogada nos excessos da bebida. O epíteto foi depois alargado a toda uma geração que, nos principais países ocidentais, sofreu as agruras do período pós-I Guerra Mundial e da grande crise económica mundial de 1929-1934.
Porquê esta revisita histórica? Porque hoje, infelizmente, a expressão volta a usar-se no tempo presente. No Reino Unido, utilizou-se há uns meses para caracterizar toda uma geração de “under 25’s” que vive numa precariedade do desemprego e numa descrença total. Por cá, neste rectângulo há beira-mar plantado, temo que daqui a não muitos anos, olhemos para esta época como um período negro, o início da nossa geração perdida. Porquê? Olhemos para factos e para números.
Estamos a criar um Estado (que, fundo, é de todos nós) insustentável. Segundo o muito falado estudo do BPI (que provocou uma irritação desproporcionada do nosso primeiro-ministro), de 2005 até ao final de 2013 (8 anos!) a dívida pública em % do PIB deverá duplicar de cerca de 65% para cerca de 125% do PIB. Esta é a conclusão de um estudo credível, realizado por uma entidade que, por acaso, é consultora do Estado em muitos projectos de investimento. Como é que esta geração vai pagar? Ninguém sabe e, talvez por isso, ninguém diz.
Em termos económicos, segundo a OCDE, Portugal será o segundo país membro com o menor crescimento médio anual (1,4%) entre 2011 e 2017 e, como tal, os portugueses continuarão a afastar-se do nível de vida dos países da Zona Euro. Tendo em conta a relação directa economia-emprego, a confirmarem-se as previsões, Portugal não conseguirá verdadeiramente criar emprego nos próximos oito anos. Que empregabilidade para uma boa parte desta geração?
Em termos educacionais, não obstante os progressos na literacia tecnológica (aposta de louvar, deste governo) estamos a criar um clima de facilitismo que nada contribui para os valores de mérito e sacrifício e para as competências que serão mais tarde valorizadas no mercado de trabalho. A taxa de abandono do sistema de ensino, antes da conclusão do secundário, continua em valores próximos dos 40%.
Em termos de capital humano, estamos a empobrecer. Estima-se que todos os anos cerca de 20 a 25 mil portugueses (na sua grande parte jovens e qualificados) saem de Portugal em busca de novas oportunidade de trabalho, fruto do desemprego, do imobilismo do mercado de trabalho e dos baixos salários. Dir-me-ão que a mobilidade global é uma tendência incontornável e positiva e que muitos voltarão com maior capital de experiências. Sem dúvida! Mas este movimento é mais grave…é mesmo uma autêntica” fuga de cérebros”, de carácter mais permanente, em função do país que temos!

Como sou um optimista incorrigível, acredito que este cenário não é um fatalismo. Agora, temos mesmo de mudar! De mudar de vida, de atitudes, de comportamentos, de participação social e de exigência cívica, de estratégias para o país. Os próximos 2 anos serão, a meu ver, decisivos.

Carlos Sezões

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