Monday, November 23, 2009

Procuram-se jovens qualificados para novos desafios profissionais (Jornal Registo, 23/11)

Enquanto, pela enésima vez, centenas de professores, membros e assessores do Governo, sindicalistas, políticos, juristas, jornalistas, opinion makers e outros continuam a discutir o sistema de avaliação dos professores, dei por mim a pensar nos verdadeiros destinatários de um sistema educativo: os jovens estudantes, que se procuram preparar e qualificar para os desafios deste cada vez mais incerto, turbulento e competitivo mundo profissional.
Infelizmente, na minha percepção, aqueles que deviam estar no topo das prioridades continuam relegados para um lugar acessório na agenda de preocupações dos decisores políticos. É pena e, a médio prazo, pagar-se-á a factura desta opção.
A grande questão a colocar é esta: os jovens estão, de facto, a ser devidamente preparados, em termos de conhecimentos e competências (aptidões, skills) para os desafios que os aguardam? Na minha opinião, a resposta é negativa. Por duas ordens de razões.
Primeiro, o clima de facilitismo que se instalou nas escolas portuguesas, nos vários graus de ensino. Com efeito, o sistema macrocéfalo e centralizador sedeado na Avenida 5 de Outubro em Lisboa, para além de limitador da criatividade, da inovação e da participação, tornou-se um indutor do facilitismo e da desresponsabilização Exemplos? A decisão de acabar com as provas globais no 9º ano, o fim dos exames de filosofia, o nível de exigência das provas de matemática, o estatuto do aluno, entre muitos outros.
Depois, pelos conteúdos que continuam a ser ministrados. Perguntem a qualquer jovem finalista ou recém-licenciado que, na expectativa de uma primeira experiência profissional, vá a um sessão de esclarecimento ou a uma entrevista individual ou colectiva de uma empresa empregadora. Será que eles serão seleccionados pelo conhecimento técnico? Raramente. O que a maioria dos empregadores quer perceber é se eles saberão trabalhar equipa, se serão rigorosos na gestão de projectos limitados no tempo, se conseguirão comunicar e liderar, se serão eficientes a avaliar os riscos, gerir prioridades e tomar decisões ou se saberão lidar com os momentos de maior pressão e stress. E se, passada uma primeira e natural fase de ambientação e aprendizagem, poderão assumir com autonomia o seu espaço e serem criativos e inovadores, no sentido de melhorarem os resultados e a performance global das suas organizações. E se, por último, conseguirão manter uma atitude de aprendizagem e adaptabilidade constantes na sua função profissional.
Infelizmente, todo o sistema de ensino está ainda parametrizado para formar o “bom funcionário” e não o “profissional autónomo e inovador”. Gostaria, sinceramente, que se gastasse apenas metade do tempo e das energias dispendidas na questão da avaliação dos professores na análise e revisão desta matéria: que currículos, que conteúdos, que metodologias pedagógicas temos hoje em dia e quais as que necessitamos para o futuro. O País, e em especial as futuras gerações, agradecerão!

Carlos Sezões

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