Tuesday, August 11, 2009

Atracção de Investimento – a caça ao tesouro do século XXI (Jornal Registo - 03/08)


Atracção de investimento! – eis um desejo repetido até à exaustão, por qualquer responsável político, desde o presidente de uma pequena autarquia até ao primeiro-ministro de Portugal (especialmente nestes tempos de eleições). Desejo legítimo, em especial se for um investimento de grande dimensão, criador de emprego e reprodutivo de riqueza. Mas, questiono-me, será que todos terão a real noção das condições estruturantes para tornar um país, uma região ou uma cidade apelativos para atrair os tão ansiados investimentos?
Falamos, pois, do conceito de Competitividade. E hoje não é segredo para ninguém que, actualmente, a competição por investimentos faz-se a nível global. Como tal, Portugal compete com a Eslováquia pela captação de investimentos, como, na escala regional, o Alentejo concorre com a Andaluzia, em Espanha, ou com a Baviera, na Alemanha, perante investidores cada vez mais rigorosos e escrutinadores.
De uma forma simplificada, são essencialmente quatro as questões valorizadas no processo de decisão: os mercados, o capital humano, as condições logísticas, e o “ambiente social” envolvente.
A proximidade dos mercados é naturalmente um constrangimento geográfico. Aqui, não se pode, a curto prazo, mudar as variáveis. Por exemplo, o mercado interno do Alentejo, com pouco mais de 500.000 habitantes não será, por si só, aliciante suficiente para a grande maioria dos sectores. Como tal, não deveremos apostar em projectos de impacto maior (inter-regional e transfronteiriço)? As condições logísticas estão intimamente relacionadas com a questão anterior. Perante necessidades de abastecimentos de matérias-primas ou transportes de produtos acabados, será necessário ter redes de acessibilidades e infra-estruturas logísticas para que tornem competitiva uma determinada localização. Questão que se me coloca neste ponto: estaremos a planear as nossas infra-estruturas em função dos investimentos que queremos atrair e dos mercados onde queremos operar?
A questão dos recursos humanos, é também elementar. Apenas sociedades com bons níveis de qualificações e competências poderão atrair investimento com grande valor acrescentado, especialmente nas chamadas indústrias do conhecimento. Por exemplo, ainda não há muitos anos, noticiava-se que Portugal tinha perdido dois grandes investimentos nas áreas das tecnologias de informação por manifesta falta de graduados em engenharia informática. Como aprimorar a afinidade entre a nossa vida académica e a empregabilidade empresarial?
O “ambiente social” envolvente, com as suas componentes ética, legislativa, regulamentar e fiscal é também cada vez mais avaliado e ponderado. Não é, pois, de admirar que ainda causem receios a muitos investidores a burocracia e morosidade das decisões públicas (ex. licenciamentos), a inércia da justiça (especialmente em situações de litígios e incumprimentos), a elevada pressão da fiscalidade (que é um obstáculo à saúde financeira e ao reinvestimento dos projectos) ou a cultura de pouco rigor existente nas relações empresariais (exemplo: não pagar a horas!).
Sendo práticos e objectivos, agindo sobre os factores que realmente poderemos controlar ou influenciar, será possível obter melhores “mapas” e “instrumentos de orientação” para esta autêntica “caça ao tesouro”. Haverá vontade para tal?

0 Comments:

Post a Comment

<< Home