Monday, September 14, 2009

“Políticas de Juventude”: uma farsa? (Jornal Registo 14/09)


No advento de um novo período de campanha eleitoral, este é, naturalmente, o tempo do surgimento dos programas e propostas por parte dos partidos políticos. E, quase de forma generalizada, é imprescindível que nas últimas páginas dos referidos programas apareça um pomposo capítulo dedicado à “Juventude”. Sob um qualquer título generalista, é debitado, frequentemente, um conjunto de declarações de princípios, sempre louváveis e consensuais, a incontornável “aposta nos jovens”, a convicção que “são o futuro de Portugal”, entre outras pérolas. E, depois, um conjunto alinhado de objectivos/ medidas/ anseios, geralmente avulsos, e baseados na maioria das vezes numa lógica de paternalismo e subsídio-dependência.
Tendo sido até há cerca e dois anos atrás (com orgulho!) dirigente de uma juventude partidária, tenho o “à vontade” e algum conhecimento de causa para falar desta matéria e, com as honrosas excepções de alguns programas, classifico este fenómeno como uma farsa autêntica.
Primeiro, porque as políticas que servem os jovens são transversais. Encaro-as em 3 grandes grupos: a educação/ formação/ cultura, a empregabilidade, a habitação. Um conjunto integrado de políticas, desdobrado em medidas concretas, devia basear-se, primeiro, na identificação de entropias que bloqueiem o crescimento pessoal/ profissional dos jovens e actuar cirurgicamente sobre elas. Dou deste já alguns exemplos: a qualidade do ensino enquanto estímulo para a aprendizagem e aquisição de novas competências, uma oferta cultural para estimular o sentido crítico e a participação cívica, a abertura do mercado de trabalho e a facilidade de inserção e progressão, no início da carreira, um mercado de arrendamento flexível para quem deseja constituir família ou iniciar uma vida independente…entre muitas outras. Tratam-se, claro está, de políticas que devem ser alinhadas pelo Estado central mas também, de forma sequencial, executadas/ especificadas pela administração local, à medida de cada realidade territorial. Um política de juventude verdadeira teria esta arquitectura e seria controlada e avaliada pelos resultados nas diversas áreas. E, nestas, a médio prazo, seria pertinente incluir o grau de atractividade do País para jovens estudantes/ profissionais estrangeiros que aqui se estabelecessem e viessem a enriquecer, com a sua diversidade, o nosso capital humano.
Naturalmente, que tudo isto não se consegue sem poder de decisão, com vista a alinhar e assegurar a coerência de políticas tão transversais. E aqui, o estatuto político, o cargo de suporte, é essencial. Infelizmente, este governo resolveu juntar no mesmo saco, Juventude e Desporto. Na prática, a juventude tem sido um apêndice neste penoso mandato de 4 anos, sem qualquer realização concreta digna de registo. Uma nota pessoal: apenas dei pela existência do actual secretário de estado, Laurentino Dias, quando este apareceu alvoroçado na comunicação social, por causa do processo disciplinar a um jogador do Benfica (Nuno Assis), já o mandato do governo ia quase a meio (!)…isto diz tudo!
Rematando e concluindo: Políticas de Juventude são pertinentes e necessárias! Mas devem ser concretas, integradas e executáveis, não apenas meros desabafos resultantes da má consciência de quem as apregoa.

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