Thursday, August 20, 2009

Política: Estratégia, Execução e Impacto

No advento deste novo e intenso ciclo eleitoral que se avizinha, a Política voltará a estar no centro das atenções do país real. Voltaremos, seguramente ao velho tema da imagem e da percepção do cidadão comum. De facto, falando de Política, dos Partidos e dos Políticos, de uma forma geral, todos concordarão que, numa primeira reacção, não despertam hoje a simpatia da maioria das pessoas. É quase consensual a sensação de que a Politica se encontra, desde há muito, numa crise de confiança e credibilidade, fenómeno reconhecido na maioria das sociedades ocidentais.
As causas são, efectivamente, complexas. Contudo, atrevo-me a simplificar e a afirmar que tal dever-se-á, essencialmente, a 5 factores:
A) A falta de sintonia, muitas vezes, entre a agenda do poder político e a realidade vivida e sentida pelas pessoas. Os problemas quotidianos, que afectam a felicidade e qualidade de vida dos cidadãos passam frequentemente ao lado da agenda política. A política deixou de estar centrada no Homem e passou a estar centrada em jogos de curto prazo, de manutenção de poder. Nos EUA, Obama, com perspicácia, reparou nesta evidência e foi esse discurso mais sensato (que muitos consideraram apenas “generalista”) que lhe garantiu a vitória.
B) A percepção de irrelevância ou incapacidade de marcar a diferença por parte do poder político. Efectivamente, a noção de que os problemas mais graves já estão numa esfera extra-política (ex. crise financeira mundial), em que os governos pouco ou nada conseguem alterar ou que existirão sempre forças e grupos de bloqueio, que impedirão as reformas (situação notada hoje em Portugal), levam a alheamento e ao conformismo das pessoas.
c) A frequente falta de coerência entre compromissos assumidos e aquilo que é efectivamente realizado. É a velha questão de falar verdade a priori e da precipitada (errada) assumpcão de promessas que, mais tarde, não se poderão cumprir porque, afinal, “a situação era bem pior do que esperávamos”. Quantas vezes já vimos isto?
d) O distanciamento entre eleitores e eleitos, que supostamente representam as populações. De facto, por detrás das paredes ainda muito opacas das Instituições e dos Partidos, estão frequentemente políticos anónimos, que não são reconhecidos nem conhecem os meios que os elegeram.
e) A clareza nas ideias e nos projectos políticos concretos. Desde há muito que, com o apregoado fim das ideologias, o “politicamente correcto” se transformou no “politicamente cinzento”. Atrás de generalidades (que, não poucas vezes, são um sintoma de falta de conhecimento técnico dos problemas) é hoje difícil a qualquer eleitor discernir princípios políticos e propostas de acção coerentes. Há sempre a sensação que é mais do mesmo e a coragem de clarificar não abunda. Mas quem o faz, quem diz o que quer e para onde vai, geralmente ganha com isso. Um exemplo bem recente: Nicolas Sarkozy!
Coloca-se-nos então a interrogação: tudo isto será um sinal da irreversível decadência das Democracias? Não alinho em visões pessimistas ou catastrofistas pelo que, para mim, obviamente que não.
A primeira grande questão: promover a assegurar a Ética. Como em tudo na vida, a Ética trará responsabilidade, transparência nas propostas e confiança nas Pessoas e Instituições.
Mas haverá outro caminho complementar, mais técnico e instrumental: garantir que a política tem impacto, que tem consequências, que não é apenas um conjunto de rituais maçudos – em síntese, garantir o alinhamento entre a estratégia (as ideias) e execução (as medidas concretas e o seu poder transformador). Deixo algumas impressões pessoais:
- Promover programas de acção claros, exequíveis, baseados em premissas verdadeiras.
Os partidos, no decurso das suas campanhas eleitorais, teriam tudo a ganhar em apresentar de forma clara, as suas propostas de acção: mostrar as suas razões contextuais, condições de aplicabilidade, prazos estimados e impactos esperados. Quanta credibilidade (e votos) se ganharia com esta forma de actuação?
- Fazer uma melhor ligação entre legislação e regulamentação.
Como é sabido, actualmente, boa parte das leis elaboradas e aprovadas em Portugal, não produzem efeitos – isto é, são inúteis. Ou não são regulamentadas, ou não são respeitadas ou ficam envoltas em polémicas intermináveis. Há que melhorar os processos de produção legislativa para assegurar que as leis tenham uma regulamentação imediata - para que sejam efectivas e não apenas palavras mortas.
- Construir indicadores de desempenho que permitam aferir de forma clara a bondade e pertinência das medidas.
Seria pedagógico que, na actual senda (justificada) das avaliações, se pudessem também construir métricas que validassem, no tempo, a adequação de todas as decisões políticas. Permitiria acabar com polémicas inúteis e permitir, com mais celeridade, medidas correctivas. Como se diz e bem no mundo da gestão, “o que não pode ser medido, não pode ser gerido”.
- Responsabilizar quem decide e quem executa.
No País em que, tradicionalmente, “a culpa morre sempre solteira”, seria bom que, sem quaisquer dramas, os sucessos e os momentos menos bons tivessem rostos. De preferência, rostos de Líderes, que soubessem assumir as suas responsabilidades, fossem recompensados pelos seus méritos e fossem exemplos a seguir neste mundo sempre complexo da gestão e da decisão públicas.
Deixo apenas estas ideias soltas e bem sei que não são novidades absolutas. Mas, estou convicto, fazem todo o sentido por estes dias!

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