Friday, April 15, 2011

Das cidades imaginadas às cidades planeadas


Na sua obra-prima “As Cidades Invisíveis”, publicada em 1972, Italo Calvino expõe um conjunto de pequenas histórias a partir de um contexto ficcionado: Marco Polo descreve ao imperador mongol Kublai Khan as cidades que visitara, no decurso das suas longas viagens. O desejo do imperador é montar o império perfeito a partir dos relatos que ouve do seu jovem amigo e emissário. São mais de 50 cidades, por vezes absurdas e metafóricas, lugares imaginários, curiosamente sempre com nomes de mulher. As descrições são curtas, agrupadas por temas: as cidades e a memória, as cidades e o céu, entre outros. Estas cidades fantásticas, perdidas num espaço temporal vasto (cruzando ambientes orientais das Mil e Uma Noites com ambientes ocidentalizados, com tráfego automóvel e arranha-céus), têm todas elas uma característica única, uma marca que as distingue, que as torna atractivas e lhe confere personalidade. O resultado é uma obra extraordinária e dificilmente definível.
Lembrei-me desta obra a propósito do cada vez mais actual debate sobre as políticas de cidades. Acho que já não oferece discussão a necessidade de uma cidade apostar na sua missão, nos seus factores de atracção e diferenciação. É conhecido o conceito de “cidade criativa”, desenvolvido por Charles Landry, (consultor britânico), e Richard Florida (professor norte-americano da Carnagie Mellon). A premissa das chamadas “cidades criativas” é simples: cidades com elevada capacidade de atracção de indivíduos qualificados, que apostem em indústrias e sectores criativos (nas áreas das tecnologias de informação e comunicação, da ciência e da investigação científica, da cultura, das artes, do design, da educação, entre outros) terão maior solidez em termos de desenvolvimento e qualidade de vida. Ambientes tolerantes, propícios à diversidade e à multiculturalidade e ambientes dinâmicos, com uma boa oferta em termos culturais e de lazer, atraem os segmentos mais jovens e criativos, que produzem inovação e criam valor. Depois, desenrola-se o efeito dominó: criam-se redes de empresas, atraem-se mais pessoas, reanimam-se os centros históricos, alavanca-se o turismo e uma cidade dita “normal” torna-se uma cidade excepcional.
Será que as cidades alentejanas, com as suas imensas potencialidades, poderiam começar a pensar nisto? Com uma riqueza arquitectónica ímpar, com uma qualidade de vida ainda acima da média, porque não apostam nestes factores diferenciadores? Gostaria de ver nas cidades alentejanas ambientes vibrantes – praças e ruas cheias de gente, as principais ruas a fervilharem de restaurantes, cafés, esplanadas, bares e lojas de produtos locais, frequentadas por milhares de turistas, como muitas cidades espanholas e italianas que conheço, às quais nada ficamos a dever. Gostaria de ver mais centros culturais e galerias de arte. Gostaria que existissem infra-estruturas de apoio a grandes eventos empresariais, como bons centros de congressos, eventos estes que se tornariam uma excelente fonte de receitas para a região. É uma utopia? Não, não é…para isto apenas é necessária uma visão de longo prazo, a mobilização de esforços, inteligência no marketing territorial e vontade política!
Poderemos, pois, ter aqui no Alentejo “cidades imaginadas” que, com planeamento e estratégia, se convertam em cidades únicas e atractivas, com qualidade de vida potencial de crescimento social e cultural? Acredito convictamente que sim!

Carlos Sezões

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