Friday, April 01, 2011

Preparem-se…não vai ser fácil…


Ao contrário de algumas reacções (legítimas) de muita gente, não acolhi a notícia de demissão do governo com alegria e fogo-de-artifício. Independentemente da avaliação que se faça do trabalho deste executivo e do respectivo primeiro-ministro (muito má, na minha óptica), a questão é que, no actual contexto económico, financeiro e social, ter de mudar um governo e ir para eleições, é sintomático do nível a que chegou a nossa vida política: o grau zero, caracterizado pelo ódio e pela crispação extrema no relacionamento entre os agentes políticos e a total incapacidade de diálogo e de geração de qualquer consenso mínimo.
Numa democracia adulta e madura, o estado dramático em que estamos teria já originado um governo de base alargado (dito de salvação nacional) em que as diferenças ideológicas e programáticas seriam, por um tempo, postas de parte em prol de um plano de emergência em que o País, em uníssono, se comprometesse com objectivos para os próximos dois anos.
Utopia? Não, não é….um pouco por toda e Europa (ver Espanha aqui ao lado) é assim que se têm gerido estes tempos difíceis e se têm preparado as bases para o futuro. Pelos vistos, passados quase 37 anos desde que implantámos a nossa democracia, ainda estamos na fase da adolescência político-partidária…e vamos pagar por isso.
Concordo que a provocação arrogante e desastrada do governo com a apresentação do PEC 4 não deu ao PSD outra opção que não fosse esta. De facto, não existiam já condições mínimas para segurar um governo que, para além do total desrespeito institucional (com o Presidente da República, com a Assembleia, com a Oposição...) nas questões mais formais, não encontrava melhores ideias para reduzir o défice que cortar nas pensões de 180 ou 200 euros. Foi a gota de água.
E agora? Bem, vamos para uma campanha eleitoral em que, receio, a demagogia, o populismo, a vitimização e o ajuste de contas serão o pão nosso de cada dia.
Será pena. Até porque será uma perda de tempo. Os nossos parceiros europeus, o FMI, os nossos credores e as agências de rating, que (bem ou mal) nos avaliam, serão insensíveis aos nossos psico-dramas mesquinhos. O que quererão saber é o que faremos agora, para restauramos o mínimo de viabilidade financeira como Estado soberano, que ainda tentamos ser. Depois seria então interessante perceber que estratégias teremos para o futuro – na competitividade, no emprego, no modelo de Estado, na educação e na formação ao longo da vida. Sim, porque serão estas questões que nos permitirão olhar para Portugal num prazo de 10 a 15 anos e ver alguma saída, alguma visão de esperança.
Por isso, na minha óptica, a primeira coisa que qualquer eleitor português deverá fazer é riscar das suas opções de voto quem apresente um discurso facilidade a curto prazo e que não saiba para onde quer ir no longo prazo. Portugal já pagou o suficiente por esta constante falta de “trabalho de casa”. Portanto, preparem-se…não vai ser fácil…


Carlos Sezões

1 Comments:

At 4:04 PM, Blogger Fusível Ativo said...

também concordo que esta foi a pior escolha para o país, independentemente de se gostar, ou não, do trabalho deste governo. A constante birra por parte de todos faz com que se sofram mais e más consequências.

 

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