Thursday, September 16, 2010

Uma carreira profissional em 2010


No âmbito da minha actividade de consultor na área dos recursos humanos, desenvolvo com alguma regularidade entrevistas/ reuniões de gestão de carreira com alguns profissionais que me abordam em busca de oportunidades. Faço-o com os perfis mais diversos: desde o director comercial ou financeiro, ex-empregado de uma qualquer multinacional que saiu de Portugal ou centralizou a gestão a nível ibérico (em Espanha), passando pelo profissional descontente que quer mudar de rumo em termos de empresa ou área de actuação, até ao jovem recém-licenciado que, passado o período de estágio, quer começar a construir um projecto de vida assente numa base profissional mais sólida.
Encontro, como será natural, muitas dúvidas e incertezas relacionadas com o que é necessário para a construção de uma “carreira” de sucesso. Compreensível! Os tempos não estão fáceis e, para aqueles que olham para referências passadas, é rápida a conclusão que uma carreira hoje não tem nada a ver com o que era há 10 ou 20 anos atrás.
Podemos hoje definir carreira como a sequência de posições, papéis, actividades e experiências integradas num formato de “emprego” – que pressupõe que os profissionais adquiram tendencialmente, com o tempo, mais competências, autonomia e responsabilidades. Acontece que tudo isto não acontece hoje de forma linear, por duas ordens de razões. Por um lado a instabilidade, incerteza e mudança constante na maior parte dos sectores e negócios. O desenvolvimento tecnológico, os cada vez mais rápidos ciclos de inovação e de preferências dos consumidores, a as adaptações e reestruturações para fazer face à concorrência ou ao mercado faz com que haja uma cada vez maior imprevisibilidade, com efeitos directos na gestão de recursos humanos: em concreto, que trabalhadores necessitamos, para que funções, com que capacidades, para fazer exactamente o quê?
Por outro lado, a própria capacidade de adaptação e mesmo as preferências pessoais de cada um influenciam bastante o trajecto de carreira. Hoje a gestão da carreira está muito centrada no indivíduo, mais do que na empresa. As suas decisões de escolha de diferentes projectos profissionais, de formação (estamos hoje num paradigma de formação ao longo da vida) e de modelo de trabalho – a tempo inteiro, parcial, por projecto e intermitente, como muitas funções já permitem – são exemplos de incerteza mas também de espaço de liberdade. Como tal, enquanto as palavras-chave eram anteriormente a estabilidade e a antiguidade hoje são a adaptação, a flexibilidade e a formação.
Assim sendo, para além de um diagnóstico muito pessoal e muito à medida, o que recomendo genericamente às pessoas que me procuram é o seguinte:
- Procurarem experiências profissionais, extra-profissionais e formativas que estimulem o desenvolvimento de competências como Liderança, Orientação para Resultados, Gestão de Prioridades Gestão de Projectos, Trabalho em Equipa e Criatividade/ Inovação.
- Procurarem, essencialmente nos primeiros anos de carreira, experiências diversificadas, em várias funções, antes de se focalizarem numa área muito específica; a gestão de carreiras hoje não é feita de forma linear e ascendente num só empregador mas em ziguezague, tanto dentro de uma só organização como entre várias;
- Definirem e assumirem percursos não assentes apenas na parte remuneratória mas valorizando também o conteúdo da função, o espaço de desenvolvimento e progressão e, não menos importante, o equilíbrio vida pessoal/ profissional. No longo prazo são estas a questões mais relevantes para nossa carreira e (claro está) para a nossa felicidade.

Carlos Sezões

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