Thursday, September 02, 2010

“A Juventude é o nosso Futuro!” (acerca da arte de fazer discursos vazios)


No passado dia 12 de Agosto, comemorou-se o Dia Internacional da Juventude. Nesse mesmo dia, a imprensa portuguesa e mundial fazia eco de um indicador nada animador para o nosso futuro próximo: parece que a taxa mundial de desemprego jovem atingiu em 2009 o nível mais alto da história – 13%, correspondentes a 81 milhões de pessoas - e deverá ainda aumentar nos próximos tempos, segundo estudos revelados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Muitos analistas voltaram a falar de uma “geração perdida", designando os milhões de jovens descrentes e desmotivados que, após longas e frustradas procuras de emprego, acabam muitas vezes por se excluir do mundo do trabalho.
Naturalmente que a crise mundial despoletada em 2008, teve o seu papel importante. Este contexto de crise traduziu-se, ainda, em menor quantidade de horas trabalhadas e na redução de salários para os que conseguem manter um emprego formal, mais ou menos estável. Ainda segundo o mesmo estudo, 152 milhões de jovens (quase 28% de todos os jovens trabalhadores no mundo) trabalharam em 2008, mas permaneceram num patamar de pobreza, ganhando menos de 1,25 USD (dólares) por dia. A própria União Europeia (UE) registou um aumento de 4,6% no desemprego de jovens em 2009, a maior alta da história. O investimento em educação e a criação de políticas de inserção de jovens no mercado de trabalho forma apontadas como medidas prioritárias a ter em conta pelos responsáveis políticos.
Perante isto, não pude deixar de recordar os conjuntos de declarações de princípios que se ouvem por cá, sempre louváveis e consensuais: a incontornável “aposta nos jovens”, a convicção que “são o futuro de Portugal”, entre outras pérolas – que, no fundo, são discursos absolutamente vazios. E que, depois, vêm geralmente complementados com um conjunto de medidas avulsas, e baseadas na maioria das vezes numa lógica de paternalismo e subsídio-dependência.
É hoje patente (por exemplo, nas taxas de desemprego jovem e dos jovens mais qualificados) que existem enormes bloqueios à construção de um projecto de vida na geração dos 20 – 35 anos. A inflexibilidade dos mercados de trabalho, esquizofrenia dos mercados de habitação (aquisição e arrendamento), sistemas de educação/ formação arcaicos e uma “cultura social” muitas vezes avessa à inovação, ao risco e ao mérito, não ajudam e, explicam, em parte, o êxodo de milhares de jovens todos os anos para o estrangeiro.
Em vez de discursos sem conteúdo, necessitaríamos de um conjunto integrado de políticas, desdobrado em medidas concretas, centradas no crescimento pessoal/ profissional dos jovens. Exemplos? A qualidade do ensino enquanto estímulo para a aprendizagem e aquisição constante de novas competências (o caminho actual do facilitismo não ajuda nada), uma oferta cultural para estimular o sentido crítico e a participação cívica, a abertura/ flexibilidade do mercado de trabalho e a facilidade de inserção e progressão, no início da carreira, um mercado de arrendamento flexível para quem deseja constituir família ou iniciar uma vida independente…entre muitas outras.

Naturalmente, que tudo carece de efectivo poder de decisão, com vista a assegurar a coerência de políticas tão transversais. Não se perca, pois, mais tempo com inutilidades…aplique-se antes, o tempo e a energia de quem deve decidir em acções concretas e viáveis.

Carlos Sezões

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