Friday, June 25, 2010

Economia Social e Voluntariado contra a crise


Estive no passado fim-de-semana numa conferência para falar sobre economia social e voluntariado. Confesso que é um tema que me motiva e fascina, e que, através dos quase 4 anos de existência do Fórum Alentejo 2015, fiquei a conhecer um pouco melhor.
Nas últimas duas décadas, tem sido evidente, para os mais atentos, a crescente importância do sector social ou terceiro sector (para contrapor à tradicional divisão público/ privado). O seu espaço de actuação é vasto e importante. Enquanto o Estado deve reservar para si as funções de soberania e de regulação e as empresas privadas a produção de bens e serviços (e o natural foco no lucro, que permita criar riqueza, reinvestimento e empregos), existe uma importante necessidade a satisfazer por outras entidades: a inclusão, o bem-estar e desenvolvimento social e cultural, em comunidades locais e regionais. Este novo espaço deve, de facto, ser ocupado por entidades que façam o que outros dois sectores não podem, não querem ou não sabem fazer tão bem. A economia social é constituída por cooperativas (agrícolas, de ensino, de habitação, culturais…), sociedades mútuas, associações de desenvolvimento local, fundações, organizações não governamentais (ONG´s) diversas e organizações de base religiosa (como as Misericórdias), com as mais variadas missões: da solidariedade e assistência social à inclusão, da dinamização cultural e recreativa às intervenções de carácter ecológico e ambiental.
Assente em princípios personalistas (primado da pessoa humana), no associativismo voluntário e aberto, na gestão e controlo democrático dos seus membros e em valores como solidariedade, responsabilidade e o interesse da comunidade, o seu papel pode ser decisivo. Numa perspectiva estrutural, pode ajudar a tornar as sociedades mais solidárias, coesas e qualificadas. Numa perspectiva mais conjuntural, neste contexto de crise, pode e deve ter um papel primordial, ao ajudar a corrigir os naturais desequilíbrios e excessos do mercado, através de redes de ajuda e solidariedade que permitem que, numa comunidade, se mitiguem as situações de pobreza ou exclusão. Instrumentos como o micro-crédito e o fomento do empreendedorismo (quer social, quer empresarial), podem e devem ser incrementados.
Neste âmbito, existe um componente essencial: o voluntariado. O voluntariado, que constitui cerca de 44% do total dos recursos humanos destas instituições em Portugal, deve ser promovido, desde cedo, no percurso escolar e valorizado socialmente, de modo a alimentar de energia e inovação todos estes projectos sociais. De referir que, para além desta relevância, é actualmente considerado internacionalmente, só por si, um indicador expressivo do nível de desenvolvimento humano de um país.
Uma última nota estatística, para dar uma noção mais global. Segundo os dados divulgados há umas semanas, o peso do sector da Economia social é muito menor em Portugal do que na generalidade dos países europeus (4,2% da população activa contra 7% na União Europeia). Em função dos tempos que correm e das necessidades que continuam a emergir, a tendência será, naturalmente, o crescimento.

Carlos Sezões

1 Comments:

At 2:47 PM, Blogger Jorge Caldeira said...

Muito bem escrito. Os meus parabéns.

 

Post a Comment

<< Home