Monday, March 01, 2010

Trabalhar no século XXI: estamos preparados?


Já por algumas vezes escrevi sobre os desafios da empregabilidade e dos novos patamares de exigência em termos de formação e qualificações. Hoje falo do cenário, daquilo que, na minha óptica, nos espera nos mercados de trabalho deste turbulento e incerto século XXI.
Uma evidência: a natureza e essência do trabalho mudaram nas últimas décadas e mudarão ainda mais, num futuro próximo. Enquanto antigamente, tínhamos o predomínio de sectores primários (extractivos) e industriais, em que havia recursos tangíveis transformados em produtos finais concretos, hoje temos uma realidade diversa, centrada em dois pontos. Primeiro, a primazia dos serviços como grande sector económico e, em termos de valor, a importância dos activos intangíveis. Efectivamente, são as marcas, as inovações tecnológicas, o conhecimento e reputação e os níveis de qualidade que marcam a diferença entre empresas e, num cenário concorrencial, separam as que sobrevivem e florescem das que estagnam e desaparecem. Temos cada vez organizações que, na actualidade, apenas gerem e processam informação e conhecimento e o seu peso no tecido económico tende a aumentar. Isto tem provocado um fenómeno por todos reconhecido de “virtualização” do trabalho, em que o profissional apenas trabalha, a partir de um interface informático, em “matérias-primas” não palpáveis como dados e informação. Isto vem alterar completamente a importância do espaço físico (tornando-o secundário) e do tempo (banalização dos horários). De facto, hoje e cada vez mais, termos mais pessoas a trabalhar sem horários definidos, a terem que corresponder a exigências de prazos e qualidade e não reguladas por rituais diários, fazendo-o muitas vezes à distância (teletrabalho). As competências técnicas não serão tão relevantes como as aptidões para liderar, coordenar, gerir o tempo com eficácia e ter a adaptabilidade para antecipar desafios ou mudar sob pressão.
Para evitar generalizações, muitos dir-me-ão que continuará a ser necessário haver quem ponha máquina a funcionar na indústria, quem cultive os solos e quem coloque os tijolos na construção de um edifício. Sem dúvida! Mas serão, em termos quantitativos, cada vez menos e em empresas cada vez mais pequenas.
Depois temos desafios sócio-culturais, aos quais se tem de dar uma resposta, uma vez que, se ao contexto influencia o Homem, o Homem também condiciona o contexto. De sublinhar, desde já, que a nova geração Y (nome convencionado para designar os nascidos pós-1980) é muito diferente das anteriores, em todas as sociedades ocidentais. Dotada de graus elevados de educação/ formação, procura, genericamente, realização profissional, aprendizagem constante e equilíbrio e qualidade de vida profissional/ familiar – não apresentando uma orientação tão individualista e materialista como a anterior nem a fidelidade a um só local de trabalho, como a geração dos seus pais. Tal origina a necessidade de ambientes profissionais saudáveis, com um misto de foco nos resultados, cultura do mérito e qualidade de vida. E por outro lado, com o cenário de globalização e desregulamentação, tal conferirá maior dimensão ao fenómeno da mobilidade, a nível regional, nacional e internacional. Teremos pois, ambientes de trabalho mais multiculturais e diversificados, em que a única coisa constante será…a mudança.
Por último, duas preocupações demográficas. Primeiro, o envelhecimento da população activa o que originará, a curto prazo, uma enorme percentagem de trabalhadores acima dos 50 anos. Como enquadrá-los, como conseguir uma contínua actualização de competências ou (olhando por uma óptica positiva) como aproveitar o seu capital de experiência e conhecimento? Em segundo, a já pré-anunciada regressão da população, se não se alterarem as tendências da natalidade e se a imigração não for de dimensão relevante. Nestes dois últimos pontos, são prementes políticas ambiciosas e eficazes.

Carlos Sezões

0 Comments:

Post a Comment

<< Home