Friday, June 11, 2010

Economia explicada às crianças (e a alguns adultos que teimam em não perceber)


Parece que, no último mês e meio, o País acordou para a sua (trágica) realidade económica-financeira. Em bom rigor, não sucedeu nada que muitos não tivessem, em devido tempo, avisado. Ao contrário do que se diz por aí, o mundo não mudou nestas duas semanas. Todos os ingredientes já cá estavam, camuflados por uma sofisticada cosmética ou menosprezados caso fossem demasiado evidentes. O peso do défice, da dívida soberana, da dívida dos privados, o desequilíbrio entre
pagamentos e recebimentos ao exterior caem agora em cima das nossas cabeças…mas são realidades consolidadas nos últimos 10 anos.
Mas, não obstante, algumas almas caridosas (inconscientes?) continuam a clamar contra as medidas de emergência agora tomadas e a defender, com uma paixão próxima do fundamentalismo, o papel do Estado, através do investimento público e do reforço das prestações sociais. Apenas dois números para percebermos para onde vamos se continuarmos neste caminho: estudos demonstram a dívida pública em % do PIB deverá duplicar para cerca de 125%(!) do PIB em 2013 e a taxa de crescimento real deverá manter-se travada numa média anual de 1,6% até 2025 (não sendo, pois, suficiente para criar emprego).
Vamos então a algumas questões que deviam ser mais evidentes para todos:
• Um País, tal como uma família ou uma empresa, não pode gastar continuamente para além da riqueza que gera; pode faze-lo pontualmente, para reanimar a economia, mas não durante uma década, como acontece connosco.
• Criar riqueza consiste em gerar valor acrescentado com produtos e serviços transaccionáveis no exterior (tecnologia, consultoria, equipamentos, produtos manufacturados, etc); investir em infra-estruturas em Portugal que, para a sua realização, necessitam de aquisição de recursos externos e não demonstram ter capacidade de dinamizar a economia nacional, não é opção…é tolice.
• Incrementar a produtividade e, consequentemente, a competitividade e as exportações é o único caminho possível para sairmos da estagnação; para tal, é preciso fazer mais com menos custos – pressupõe pessoas qualificadas, empenhadas e…resultados no final de cada mês;
• Reduzir custos passa, essencialmente, por tornarmos o Estado mais eficaz, que necessite por isso, de menos impostos; o Estado até poderá efectuar mais investimento (escolas, infra-estruturas logísticas, hospitais, centros de investigação) e ter mais benefícios sociais para quem precisa – basta, para tal, reduzir o seu imenso desperdício em custos de funcionamento.

O caminho não me parece, pois, difícil de descortinar. Resta-nos esperar que, nos principais cargos políticos, hajam protagonistas corajosos e determinados para implementarem o que é necessário. Neste contexto, duas notas finais, de preocupação e desilusão. Um já assumido candidato à Presidência da República apresenta como grande mensagem na área económica um novo modelo financeiro alternativo mundial como isso, só por si, curasse a nossas debilidades. Como segunda nota, lembrei de um Presidente da República, há uns bons anos, no exercício das suas funções, ter avisado o governo e o país que “há mais vida para além do défice”. Pois há…pois houve…mas como todos nós sabemos hoje, não tem sido grande coisa!

0 Comments:

Post a Comment

<< Home