Corrupções, clientelismos e outras tradições
A questão do combate à corrupção está na moda. Hoje, como há 10 e há 15 anos atrás. Provavelmente, daqui a 5 anos, estaremos a repetir os mesmos lugares comuns. Infelizmente, mesmo nas vozes (supostamente) mais avisadas, o esclarecimento não abunda. O inimitável novo bastonário dos advogados clama contra determinadas prática e embrulha, tudo junto, actos de ética duvidosa com actos de corrupção, passíveis de serem considerados ilícitos criminais. Na sequência das suas afirmações, muitos já vieram defender a imoralidade de estar na política e depois passar para o sector privado. O que pretenderiam? Que, uma vez político, político toda a vida? Ou que o Estado subsidiasse essas pessoas para nunca mais trabalharem na vida? Enfim, uma embrulhada. Não é separando políticos dos outros cidadãos, com fronteiras estanques. A questão da corrupção é, naturalmente, algo mais profundo que a maioria dos exemplos do senhor bastonário. Passa pelo clientelismo, pelo tráfico de influências, pela quase tradição social do dar e receber algo em troca, pela falta de consideração e respeito pelo Estado e pela "coisa pública". É uma questão cultural como defende, e bem, Paulo Morgado no seu novo livro "O Corrupto e o Diabo", que se alimenta da tolerância social, dos brandos costumes, da burocracia estagnante da nossa administração pública. E da falta de vontade de levar o apuramento de responsabilidades até ao fim, nos casos de alta corrupção. Quando a natureza humana se inclina para tal e o contexto ajuda, só há uma coisa a (tentar) fazer: mudar o contexto...
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