Como chegámos ao 28 de Setembro?
Aquilo que muitos julgavam inconcebível e impossível, aconteceu ontem, 28 de Setembro: Menezes foi eleito Presidente do PSD. Muitas teorias e análises começaram já a florescer e continuarão a fazer o seu caminho nas próximas semanas. Sem pretensiosismos de querer impor a "minha verdade", deixo aqui algumas convicções pessoais.
Primeiro há que reconhecer o óbvio. Esta foi, indiscutivelmente, uma vitória do mérito, da determinação e fé do protagonista e do empenho da sua equipa. A sua campanha foi profissional, intensa e emocionalmente inteligente. Tendo, por defeito, o aparelho central do Partido do outro lado da barricada, a mobilização e o crer das chamadas bases, com diversas motivações e expectativas (genuínas!), foi decisiva para este resultado.
Contudo, penso que este desfecho teve outras mães e outros pais...
Em primeiro lugar, a Ausência e a Apatia! Falo da ausência de todos os chamados notáveis...políticos de referência, quadros qualificados e com provas dadas, tanto no tempo de Cavaco Silva como de Durão Barroso que, desde 2004, se colocaram (legitimamente, diga-se) fora da primeira linha da actividade política-partidária. A crença de que a liderança de Marques Mendes subsistiria suavemente até 2009, sem necessidade de grande esforço ou empenho da sua parte esfumou-se. Para muitos, a noite de ontem foi o concretizar de um pesadelo. Se pudessem antecipar este resultado, seguramente que uma terceira via credível e vencedora teria emergido há 2 meses atrás.
Em segundo lugar, a Incapacidade de Renovar! Luís Marques Mendes teve, a seu crédito, uma atitude de grande voluntarismo e determinação e até de capacidade de inovação em muitas das suas propostas - para além dos evidentes resultados positivos nos desafios eleitorais que enfrentou. Foi-lhe fatal a incapacidade de mobilizar mais gente nova, do Partido e da sociedade civil, para o apoiar no dificílimo trabalho de oposição actual. O progressivo esvaziamento da sua Comissão Política através das conhecidas demissões e a sensação que era, cada vez mais, um homen só, apenas veio contribuir para moralizar e dar novas forças ao seus adversários. Não conseguiu atrair, motivar, gerir, enquadrar e promover - funções essenciais para um líder. Uma vez mais, a crença de que os presidentes de Distrital e de Secção bastariam para garantir a vitória mostrou ser uma falácia, além de nos permitir interrogações sobre a real representatividade de determinados dirigentes.
Por último, a Miopia Estratégica! Gerir o processo de Lisboa da forma conhecida por todos é um exemplo de muitos erros, uns maiores e outros menores, que contribuíram para a erosão da imagem dos dirigentes ontem derrotados.
Em conclusão, omissões, ausências e incapacidades de muitos, levaram a este resultado conseguido por poucos. O 28 de Setembro foi "ganho" pelos seus vencedores mas, essencialmente, foi "perdido" pelos derrotados e pelos muitos que nem sequer foram a jogo.
Pessoalmente, penso que Marques Mendes merecia ir a 2009 mostrar o seu valor no tira-teimas das Legislativas. Os militantes do PSD decidiram o contrário.
E agora? Resta esperar. Tenho as maiores reservas em relação a determinada forma de fazer política, característica de Luís Filipe Menezes e de muitos dos seus apoiantes - ênfase em questões "micro", sem uma visão estratégica global, populismo nas intervenções (ex: como aborda a questão da Administração e dos funcionários públicos), falta de matriz ideológica nas suas propostas, inconstância em determinadas questões (ex. OTA) e uma atracção pelo conflito em detrimento da procura de consensos. Para além da conhecida obsessão com o aparelho partidário de base, com todas as suas redes de dependências e cumplicidades.
Para bem do Partido e da necessária Oposição que é necessário (re)construir em Portugal, faço votos que uma certa postura de estado e solidez de discurso que Menezes ensaiou por vezes nesta campanha se materialize numa forma mais madura e sólida de actuar. Portugal agradecerá! Caso contrário, em 2009 cá estaremos de novo prontos para mudar de vida...
2 Comments:
Caro Carlos,
Tomei a liberdade de "linkar" o v/ blog no Discurso Directo.
Abraço.
Olá Carlos
MUITOS PARABENS pelo blog.
Em relação ao "post", estou inteiramente de acordo contigo, a eleição de 28 foi a má moeda que afastou a boa. É lamentável que o actual Presidente do PSD seja do tipo; vale tudo para ganhar havendo ou não havendo "fair-play" o que interessa é a vitória. A enorme competição em que vivemos e a absoluta necessidade de obter resultados imediatos, conduzem a uma sociedade imoral. Nunca me canso de dizer a familiares, amigos e conhecidos que é possível alcançar os objectivos sem o recurso "à falta". Enfim, vamos vivendo na medida do possível, eu, por mim, faço por transmitir aos meus filhos bons valores morais e sociais. A eleição de Menezes representa tudo aquilo em que não acredito!
Abraço
Miguel Simão
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